Quem quer o Bolinha?
30/11/06
Quem quer o Bolinha?
Minha irmã foi a uma festa e participou de uma rifa na qual ganhou como prêmio um pintinho amarelo. A ave era tão pequena e indefesa que logo me apaixonei por ele. Essa mesma irmã, vendo a minha dedicação, deu-me o bichinho.
Logo lhe arranjei um lugar: uma caixa maior do que ele. Minha outra irmã falou logo que pinto sozinho não agüenta a solidão e morre.
Sendo assim, tive uma excelente idéia: coloquei um espelho para que ele sempre tivesse uma companhia, a dele mesmo vendo o seu reflexo.
Foi inacreditável, mas deu certo, ele se olhava e picava, pensando ser a sua alma gêmea. E assim foi crescendo, forte e saudável, lindo e fofo.
Dei-lhe o nome de Bolinha, porque ele não podia ver um objeto redondo que logo picava, como se aquelas bolinhas fossem empecilho para a sua vida ou para seu próprio prazer, não sei. Não podia ver lençol de bolinha que picava cada uma. Um dia, peguei-o rezando o terço: cada conta ele saía bicando. Uma graça.
Quando estava na fase da adolescência, com as asas para dar belos vôos, piorou. Subiu à mesa e viu um apetitoso frango assado.
Mais uma vez, aprontou: bicou e comeu o saboroso prato.
Cheguei a cozinha e vi a cena. Fiquei horrorizada. Como pôde o filho comer a própria mãe ou o pai? Um matricídio!!!! Um parricídio?
Depois dessa travessura, foi para uma outra casa, onde existe um lindo jardim e ele pode 'galinhar' à vontade.
Acha que ele se adaptou com os irmãos?
Que nada, sempre dava umas fugidinhas por dentro da casa, sujando e deixando pista de seu esconderijo.
Uma das visitantes do sitio observou que a raça do pintinho, hoje um lindo frango, era muito boa para procriar e levou o meu Bolinha que já não me pertencia.
Agora é a vida de Bolinha que procria e vai sendo passado, fazendo excursão de casa em casa. Onde ele vai parar, não sei.
Quem quer o Bolinha?
Adriana Quezado