BRUXAS

BRUXAS

Não se sabe precisar ao certo em que ano aconteceu esta história, talvez tenha acontecido muito antes dos nossos avós.

Tudo começou no dia do eclipse total, quando a sombra da terra escondeu a luz do sol e fez-se noite em pleno dia. O povo nem se atreveu a sair de casa, alguns pregadores juravam se tratar do fim do mundo. Rezadeiras se apegavam as suas rezas, um ou outro se atrevia a sair de casa. Foi neste exato momento que o navio atracou. Dele desembarcaram além de produtos vindos da Europa , juntamente com a tripulação de turistas entre outros que desembarcaram em meio ao eclipse alguns estavam estupefatos com o fenômeno, outros juravam já ter visto e outros ainda acreditavam estar em outro mundo.

Junto à tripulação desceram três mulheres que viajavam sozinhas. Altas e de corpo esbelto, uma delas era ruiva a outra loira e a terceira negra. Elas pareciam exibir um ar de mistério tal qual o eclipse, que, porventura passou tão rapidamente quanto chegou. A luz do sol voltou a brilhar e o povo voltou a sair das suas casas, alguns acreditavam na misericórdia de Deus que se apiedou dos homens e resolveu não extinguir a raça humana.

Por conta do alvoroço causado pelo eclipse os moradores nem se deram conta da chegada das três. Apenas dona Corina que era a proprietária do imóvel que elas haviam alugado pelo período de três meses, ao valor total de cinco mil contos de reis. Uma pequena fortuna tendo em vista as condições um tanto precárias do imóvel, mas as moças pareciam não se importar em pagar, queriam se hospedar exatamente naquela casa. A ruiva que se chamava Rochelle, já havia estado na Ilha à cerca de uns dois meses atrás, viu a casa e tratou de acertar o aluguel com a proprietária, que era pessoa dinheirista e muito avarenta. Ao reconhecer as três moças, dona Corina veio logo ter com elas.

-Prazer em revê-la.- disse dirigindo-se à Rochelle que retribuiu o comprimento com um sorriso. Em seguida disse:

-Essas são Lésbia e Silvia, as amigas de quem lhe falei.

-Sejam bem vindas!

As moças sorriram.

-Vamos! – convidou Rochelle olhando para as amigas, que por sua vez fizeram sinal positivo.

Silvia a mulher negra que exibia uma beleza estonteante chamou o carregador.

Um rapaz franzino de pele escura parecendo um índio, empurrava um carrinho com as bagagens.

-A casa fica um pouco longe do porto. – disse dona Corina ao ver a quantidade de malas e tralhas que o rapaz dificultosamente empurrava.

-Tomaremos um carro de aluguel. - disse Rochelle.

Corina ficou parada observando as três moças.

-Assim que a senhora nos entregar a chave. - falou Rochelle estendendo a mão direita exibindo unhas enormes pintadas de vermelho sangue.

-Sim. É claro! Desculpem-me! Eu sou desligada... – disse sem jeito, entregando o molho de chaves.

Rochelle pegou o molho de chaves e olhou nos olhos de dona Corina que sentiu um arrepio percorrer sua espinha causando-lhe um estremecimento.

Elas tomaram um carro de aluguel, dona Corina ficou ali meio sem saber o que fazer. Aquela mulher a olhou de maneira estranha e ela sentiu uma coisa ruim.

-Diacho! Que diabo tá acontecendo comigo? – disse para si mesma.

Dona Corina deu de ombros e saiu. Estava alcançando a rua da praia quando uma mão tocou-lhe o ombro fazendo soltar um grito aflito.

Ela virou-se de repente e deparou com se Lico, um velho pescador.

-Há! Ainda bem que é o senhô! –suspirou aliviada.

-Que é isso cumadre? Parece inté qui viu assombração.

-Acho que vi mesmo.

-A senhora tá toda trêmela.

-Acho que só fiquei um pouco impressionada.

-Por causa do escurecimento do dia?

-Não. Aquilo foi só um eclipse.

-Clipse ou não achei que o mundo ia findá.

-O fim do mundo não existe seu Lico.

-Vai atrage disso.

Dona Corina riu da simplicidade do pescador. Caminharam juntos até chegarem ao portão de cãs de dona Corina.

-Inté cumadre.

-Inté seu Lico.

Dona Corina entrou fechou o portão alcançou a poucos passos a porta de casa, olhou para trás seu Lico já havia se afastado. Ela abriu a porta e entrou na sua residência.

A casa alugada pelas três recém-chegadas, ficava no alto de uma colina, a casa era pequena e antiga, a mobília simples, mas o que atraia era a vista para o mar. Os fundos davam para a mata atlântica e do lado direito havia um pequeno cemitério.

Se for por causa do eclipse ou não, não se sabe, mas naquela noite coisas estranhas e inusitadas passaram a acontecer.

Diná tinha dado à luz a pequena Laura que era uma benção. Não era de chorar e mamava igual uma ternerinha, naquela noite a menina não parava de chorar e não aceitava o peito da mãe, desesperada don Diná mandou chamar a benzedeira. Sinhá Balbina veio até a casa de dona Diná para benze a menina Laura.

-Embruxamento. – foi o veredicto de sinhá Balbina.

-Jesus amado! –clamou dona Diná.

-Vamô te que benze nove lua pra vê se a menina reage.- falou sinhá Balbina.

Na casa de seu Loca também acontecia coisas estranhas. Os bichos pareciam ta vendo o coisa ruim na frente. Eram os cães que não se calavam as galinhas só cocoricavam e se debatiam o cavalo do seu loca relinchava feito doido. Seu Loca não sabia o que fazer.

Esses episódios aconteceram durante uma semana seguida, o povo da Ilha estava em alvoroço, sem saber que decisão tomar.

Os homens sem conseguir pregar o olho durante a semana toda, acabaram indo parar todos na venda do Alécio.

-É culpa desse clipse. – afirmou seu Lico.

-Nada. Isso é o coisa ruim que tá zanzando a ilha. – disse seu Loca

-Oces parô de dize bobage. Os bicho tão assustado é só isso. - falou Alécio enquanto servia pinga para Xerxes que acabara de chegar.

-Só sei que lá em casa a diná já mandou chama sinhá Balbina, a Laurinha tá chorando que dá dó e a sinhá Balbina diz que é embruxamento. – ressaltou Zózimo esposo de don a Diná.

-È cosa de bruxa. – sustentou Xerxes.

-quem será a desgramada? – instigou Zózimo. –Se eu pego eu dô cabo na mardita.

-Dás cabo com estepô? Tu já viste alguém dá cabo no diabo?- Indagou seu Loca.

-Vamô fala com o padre Ouvídio. – recomendou Alípio.

-É o Alípio tem razão, só um enviado de Deus pra dar cabo das coisa do inferno. Sustentou seu Lico.

Xerxes estava no quinto copo de cachaça e já tava pra lá de Bagdá, quando saiu da venda jurando pegar quem tava provocando tudo aquilo. Trôpego e sem dar ouvidos aos demais que tentavam impedi-lo de sair naquele estado de embriagues, ele desceu os dois lances de escada da porta de entrada da venda quase se estabacando lá embaixo na calçada.

Xerxes ia tropeçando com uma garrafa de pinga debaixo do braço. Estava indo na direção da praia. A noite estava clara e o céu salpicado de estrelas. O mar tranqüilo e sereno, Xerxes alcançou a areia fofa e branca da praia. Sentiu a brisa suave que vinha do mar e o cheiro de maresia que tanto lhe agradava.

-Se eu te pega eu te mando de volta pro inferno... – dizia sozinho em seu avançado grau de embriaguez. E assim ele ia fazendo ziguezague pela praia, dando de vez enquanto um gole na malvada da cachaça.

Em dado momento ele vislumbrou a imagem de um cavalo. Apertou os olhos tentando aumentar o seu campo de visão. Foi andando na direção da visão até que chegou bem perto, avistou um cavalo branco e montada sobre o belo animal estava uma linda amazona nua em pelo.

-Estou mesmo bêbedo... – frizou Xerxes diante da visão daquela linda mulher negra e ainda por cima sem nenhuma roupa.

-Eu morri e cheguei no paraíso foi?

-Você morreu! Mas ainda não está no paraíso. – respondeu a amazona.

-Então o que tenho que fazer para alcançar?

Ela esfregou o corpo sobre o dorso do cavalo exibindo uma sensualidade de eriçar o pêlo de qualquer mortal.

-Sobe. – convidou. A voz sedosa e doce era quase um sussurro delicioso.

Xexes abandonou a garrafa de cachaça e subiu no cavalo. Sua embriagues parece ter se evaporado instâneamente.

O cavalo branco se pos a galope e seguiu pela praia em direção a colina. Xerxes se viu diante da casa da colina que pertencia a dona Corina. No portão mais duas lindas mulheres que também se encontravam nua esperavam por ele.

Xerxes passou os dedos nervosamente pelos cabelos e disse: - Devo de tá sonhando.

Elas o obrigaram a apear do cavalo e o levaram para o interior da casa.

Na manhã seguinte padre Ouvídio, arrumava a capela para rezar a primeira missa do dia. Ele ajeitava as flores no altar, quando ouviu um grito vindo do interior da sua igreja. Ele virou repentinamente e deparou com uma visão aterrorizante. Beata Georgina tapava os lábios com as mãos trêmulas e diante dela estava Xerxes, o corpo nu coberto por chagas.

-Salve-me! Jesus Cristo Salve-me! – implorava Xerxes.

Padre ouviu desceu a pequena escada onde ficava o altar e alcançou Xerxes que estava ajoelhado.

-Meu filho o que ouve? – Indagou padre Ouvídio.

-Fui tocado pelo demônio padre.

-Calma meu filho! – pediu o padre. – voltando-se para a beata Georgina disse: Dona Georgina pegue água, por favor.

A mulher saiu e voltou em seguida com um copo de água.

-Fui tocado pelo cão do demônio. – Dizia Xerxes sem parar.

Apesar de padre Ouvídio pedir para que ele se acalmasse. Este parecia não lhe dar ouvidos balbuciava um monte de impropérios. Padre Ouvídio pegou o terço e a bíblia e se pôs a orar.

-Sai! – gritava Xerxes como se visse alucinações. – Sai de mim, larga o meu corpo! – gritava em sua perturbação.

O povo foi chegando para a missa e a visão perturbadora de Xerxes naquele estado chocava a todos. Padre Ouvídio pedia a todos que tivesse calma. Mandaram chamar o irmão de Xerxes que veio e ao ver o irmão naquele estado ficou apavorado.

-Quem fez isso com ele padre? – indagou seu Loca que havia chegado.

-Não sei meu filho. Eu preparava o altar para a primeira missa dona Georgina me ajudava quando Xerxes chegou neste estado.

Num instante a igreja estava lotada de curiosos.

-Minha gente, por favor, a missa será cancelada. Voltem para suas casas, pedia padre Ouvídio.

O irmão de Xerxes juntamente com alguns amigos o levou para o posto de saúde que ficava ali perto. A igreja foi fechada e só permaneceram lá dentro o padre e o pessoal da associação dos moradores.

-Acho que sei quem é responsável por isso. – declarou dona Corina.

-Sabe? – indagou seu Lico.

-Sei. – respondeu.

-Então diga logo, incentivou dona Georgina que ainda tinha as carnes trêmulas.

-Isso é coisa daquelas moças que chegaram no dia do eclipse. – afirmou.

-Aquelas lindonas? Não acho que a senhora tá imaginando coisa. – respondeu Silas, filho de seu Lico.

-Aquelas mulheres são muito estranhas. No dia em que eu entreguei a chave da casa para elas eu senti no olhar da ruiva uma coisa ruim.

-A cumadre tava estranha memo naquele dia. – assentiu seu Lico.

-Seu Lico isso não justifica a acusação de dona Corina. – declarou padre Ouvídio, - e além do mais, essa história não tem o menor cabimento.

-Mas padre, olha o estado do pobre Xerxes. O que me diz a respeito? – indagou dona Corina.

-Sei lá o Xerxes tem problemas com a bebida, ontem à noite ele deve ter tomado o seu habitual porre, talvez algum vândalo tenha feito isso com ele.

-Ele falô em mulher padre. Eu ouvi. Ele disse aquelas mulher tem a face do diabo. – acrescentou beata Georgina.

-Se ele falô isso é porque tem mulher bruxa metida. – concordou Alípio dando pela primeira vez a sua opinião.

-Mulheres. Plural. Quer dizer mais de uma. Nesse caso três. – salientou dona Corina.

-Nós não podemos deixar que isso aconteça novamente. Vamos expulsar as endemonhada da nossa praia. - concluiu seu Loca.

-EU acho que o Loca tem razão. – falou Alípio.

-Eu também concordo. – confirmou seu Lico.

-Gente precisamos ter provas. – salientou padre Ouvídio.

-Eu sirvo de isca. – se candidatou Silas.

-Você, filho?

-Eu mesmo pai. Se aquelas mulher são bruxa elas vão pagar caro o que fizero ao Xerxes.

-E as criança tudo embruxada na vila. – acrescentou o marido da dona Diná.

-Sem contar nos animais que tem aparecido morto. – salientou seu Loca.

Depois da reunião ficou combinado, Silas iria até a casa da colina para ver se descobria alguma coisa. De qualquer forma o povo ficaria escondido e ao sinal de Silas entrariam e dariam o flagrante.

Ao cair da noite Silas subiu a colina, parou na frente da casa onde as três supostas bruxas moravam. Bateu palmas. Lésbia a mulher loira veio atender.

-O que você quer aqui? – perguntou.

Silas olhou para a mulher de cima a baixo prestando atenção a silhueta bem delineada da moça, que usava um vestido de seda vermelho com um decote avantajado deixando a mostra parte dos seios grandes e arredondados. O rosto dela era de uma beleza endeusada. Os cabelos loiros caiam como cascatas sobre os ombros nus. Os olhos de um azul profundo pareciam um oceano cercado de mistérios, a boca carnuda exibia um sorriso deixando a mostra dentes extremamente brancos. Enfim era uma visão estonteante.

-Posso entrar? – indagou Silas que por sua vez era um homem que beirava os trinta anos e de uma beleza quase que rude. Moreno alto e atlético, muitas donzelas já haviam perdido o sono para ser envolvida por aqueles braços musculosos. Corria a solta o comentário que Silas devia casamento para Cidinha a filha de João da palha.

-Por que eu o deixaria entrar? – perguntou a outra sorrindo com malícia.

-Porque eu posso te mostrar uma coisa da qual tu ia gosta muito. – respondeu ardiloso.

-E o que poderia ser?

-Só posso mostrar aí dentro. – disse apontando para o interior da casa.

-Minhas amigas estão lá dentro e elas não gostam de estranhos rondando a casa.

-O que tenho para mostra elas também podem ver. –continuou ele em seu joguinho de sedução.

Lésbia abriu o portão e saiu. Chegou bem perto de Silas e disse:

-Olha aqui pescador não sou quem você pensa. Por isso da o fora.

Silas a olhou dentro dos olhos e sem que ela esperasse a agarrou e aprendeu em seus braços fortes tomando-lhe a boca entre a sua. De inicio ela resistiu ao beijo mas depois foi tomada por uma excitação que lhe invadiu todo o corpo deixando-a totalmente sem saída.

Assim que ele a soltou disse:

-Que tal me deixar entrar agora, o que tenho para lhe mostrar é bem melhor do que isso.

-Quem você pensa que é, pescador?

-Sou o homem que veio pra te faze feliz.

-Minhas amigas não gostam de estranhos. – tornou.

-Não sou mais um estranho, acabei de beijar você. Somos íntimos, agora.

-Não queira conhecer e nem saber o que se passa dentro desta casa. – recomendou.

-Por quê? O que tem de tão ruim.

-Vá embora. – disse séria.

-Não dá.

-Não se meta nisso. – tornou

-O que eu perderia.

-Talvez a sua alma.

-Então as pessoas têm razão. Vocês são bruxas e praticam bruxaria ai dentro.

-Não se meta nisso.

-Você também é uma bruxa?

-Não se meta com o que você não conhece. Por favor, Silas.

-Do que você me chamou?

-Silas. Não é esse o seu nome?

-Como sabe?

-Eu não posso lhe explicar isso agora.

Silas a agarrou pelo braço e disse:

-Vem comigo sua filha de satanás!

-Me solta!

-Não. Eu vou levar você para a igreja onde o padre fará a excomunhão do demônio e tirará de seu corpo.

-Ficou louco? – perguntou Lésbia falando baixo.

-Não. Apenas te achei linda demais para deixar que o diabo tome conta de ti. Se alguém tiver que possuir teu corpo que seja eu esse alguém não um espírito das trevas.

-Você não sabe o que está dizendo, agora vá embora antes que seja tarde.

-Lésbia. – chamou a Rochelle surgindo na varanda da casa.

-Estou aqui, Rochelle. – respondeu.

-Quem esta aí com você?

-Um pescador. Ele quer saber se desejamos comprar peixe. - mentiu Lésbia e sussurrou para Silas. – Vá embora! Não deixe que ela o veja. Por favor, confie em mim. Eu o procuro para explicar melhor.

-Mande-o entrar. – disse Silvia que também surgiu ao lado de Rochelle.

-Essa não. - disse Lésbia entre os dentes.

-Ele já esta indo... – disse. – eu o encontro mais tarde na igreja.

-Não. Mande-o entrar. – tornou Rochelle.

Silas ficou estático não sabia se devia confiar na loira fatal. E se fosse uma armadilha?

Na dúvida ele se afastou. Antes, porém, disse:- Encontro você daqui a cinco minutos no cemitério.

-Tá. Agora ande logo. Eu darei um jeito de enganá-las.

Silas se afastou. Olhando para trás viu as duas mulheres a ruiva e a negra trocando carícias intimas.

Silas escolheu o cemitério porque este ficava ao lado praticamente da casa das bruxas e lá estavam Alípio, o pai de Silas seu Lico, o padre Ouvídio e o irmão de Xerxes, Prachedes que decidira ir caçar as bruxas para vingar o irmão que estava internado no hospital da cidade, se recuperando dos ferimentos. Depois ele seria encaminhado ao hospital psiquiátrico. Estava muito perturbado. Dizia estar vendo demônios por toda a parte. As mulheres iam até o hospital rezarem para que ele recuperasse o juízo, mas Xerxes continuava naquele mundo de devaneios e somente com sedativos para que ele se acalmasse e adormecesse.

Silas encontrou os companheiros e contou sobre o encontro com a mulher loira que prometeu ir encontrar com ele para dar explicações.

-Tu visse as outra? – perguntou Alípio.

-Vi. E o pior é que ela pareciam ter parte com o capeta. Imagina que elas tavo de beijo na boca e se esfregando uma na outra.

-E tu o que fizesse? – perguntou seu Lico.

-Eu vim pra cá. A outra disse para que não me metesse com aquelas duas.

-Tão tudo de complô. –redargüiu seu Loca.

-´Vamô voltá lá traça aquelas diaba. - atiçou Prachedes.

-Não. – declarou Silas. – Vamos esperar.

-Tu ficou foi enrabichado na loira. – concluiu seu Loca.

-Deixa de bobagem Loca o meu filho lá vai se interessar pela filha do demo.

-Não exagera meu pai. – remendou Silas.

-Não disse? Enrabichou-se. Ela enfeitiçou o Silas. – Tornou seu Loca.

Ia iniciar uma discussão quando padre Ouvídio interviu:

-Meus filhos, vamos manter a sensatez.

Nisso Lésbia chega. Todos ficaram mudos diante da beleza estonteante daquela mulher.

-E então? Vai contar a verdade? – perguntou Silas voltando-se para a recém-chegada.

-Não há nenhuma verdade. – disse.

Todos começaram a falar ao mesmo tempo e então padre Ouvídio teve que intervir novamente.

-Parem! Deixem a moça falar.

-Poderia falar em particular com o Silas?

-Quer enfeitiçar o meu filho, sua cadela?

-Pai! Deixe disso. – repreendeu Silas.

-Tudo bem eu vou embora e fiquem com a suas verdades. – disse Lésbia virando-se para sair.

-Espera. – Silas a segurou pelo braço. - Saiam um pouco, se eu precisar, juro que grito. – disse voltando-se para os demais.

Todos se afastaram um pouco. Silas sentou-se sobre uma sepultura e Lésbia fez o mesmo.

-Agora me conta. O que as sua amigas escondem.

-Você é um cara teimoso.

-Não se trata de se teimoso ou não. Meu amigo Xerxes está no hospital, o corpo dele coberto por chagas e ele completamente insano. Até médico de cabeça tá lá tratando dele. E tu vem me dizer que eu sou um cara teimoso? As crianças da vila tá tudo ficando doente e chorando como se visse o próprio demônio, os animais têm aparecido mortos e secos. Isso significa sem nenhum sangue no corpo deles. O que você me diz disso, hein?

-Mas Silas por que esta ligando estes fatos com a nossa chegada à Ilha?

-Por quê? Porque depois que vocês chegaram é que tudo isso começou. E não venha querer me enganar dizendo que isso tudo não faz sentido porque eu sei que tem uma ligação direta. As suas amigas são muito dô estranhas. Eu bem reparei no jeito delas hoje. Todas se esfregando uma na outra. Você também é chegada nisso?

-Não. – respondeu ríspida.

-Então conta logo. E como é que tu sabias o meu nome, se eu nem me apresentei?

-Certo Silas. Eu vim aqui para tentar te explicar.

-Então começa. – ordenou cruzando os braços sobre o peito.

-Vim atrás delas para investigar. – fez uma breve pausa em seguida retomou.- Há cerca de um ano atrás, Rochelle e Silvia estiveram numa cidade chamada Sossego. Era uma cidade pacata onde os moradores viviam da extração do carvão. Cidade pequena, de gente boa e honesta.

Quando elas chegaram a cidade que até então nada demais acontecia, fatos estranhos e não isolados passaram a acontecer. Crianças morriam e não se conhecia o motivo, animais apareciam secos e mortos, enfim algo muito parecido com o que está ocorrendo aqui. Mas ninguém jamais desconfiou ou sequer ligou os acontecimentos à elas. Ninguém somente eu. Minha irmã caçula tinha cinco meses de vida quando começou a definhar, a pobrezinha morreu na pele e no osso, sem que médico nenhum descobrisse a causa. Eu desconfiei daquelas duas, e uma noite eu resolvi seguir os passos delas. Vi quando elas entraram na mata e testemunhei o ritual bruxólico.

Havia uma imensa fogueira e ao seu redor Rochelle Silvia e mais umas cinco mulheres dançavam. Pareciam estar em transe. Silvia era quem comandava tudo. Ela pegou um cabrito e o sacrificou, bebeu do sangue do animal e fez com que as outras bebessem e todo o tempo ela invocou Lúcifer.Eu senti medo e repulsa vi que elas eram criaturas malditas e que por causa delas a cidade estavam em total desordem. Contei aos outros o que vi e o povo revoltado correu para a mata conseguiram capturar cinco das sete bruxas, porém Rochelle e Silvia conseguiram escapar. Eu não desisti da busca precisava vingar minha irmã, viajei por várias cidades em busca das bruxas, acabei descobrindo-as no porto de Maguaripi. Elas não me reconheceram e eu então resolvi me passar por uma interessada em entrar na sociedade de bruxaria e me aliei à elas. Viemos parar aqui e o restante você já sabe.

-Você correu sérios riscos. E como faria para acabar com elas. Exatamente o que estamos fazendo agora. Me uniria à membros da comunidade que certamente acreditariam em mim diante dos fatos que ocorreram como o seu amigo Xerxes por exemplo. Eu me certifiquei de saber à quem recorrer foi assim que descobri o seu nome. Certa manhã eu andava pela praia quando o vi consertando uma tarrafa de pesca. Perguntei à um outro pescador o seu nome, até fingi um certo interesse e então ele me disse. Caso você não tivesse vindo essa noite eu iria até você.

- E por que fingiu não saber de nada?

-Temia estragar tudo. As outras poderiam suspeitar. Eu precisava ter certeza que você era de confiança. Afinal poderia ser um truque daquelas duas.

-Viu o que fizeram com ele? Digo, com Xerxes?

-Vi. Tive que fingir que participava, mas eu não copulei com ele.

-Como assim copular com ele?

-Durante o ritual de possessão elas mantêm relações sexuais com suas vítimas.

-E as chagas? Como são feitas?

-Com um punhal.

-Então você não é uma delas?

-Se eu fosse estaria lhe contando tudo isso?

-É certo que não. Mas como faremos para destruí-las?

-Eu tenho um plano.

-Que plano é esse?

-Elas já devem ter dado por minha falta. Fingiremos que você me pegou. Elas ficaram loucas. Detestam ver uma delas sendo capturada por gente como você. Chamaremos o padre ele deve ter trazido água benta esse tipo de coisa que os padres usam.

-Acredito que sim.

-Você me levará para casa e irá me ameaçar. Em seguida borrifara água benta nelas. Isso as deixará tonta em seguida incendiará a casa com elas dentro. È preciso que sejam queimadas para assim expurgarem o mal que carregam consigo.

-Entendi.

Chamaram o resto do pessoal que esperava ansioso, contaram o plano. O padre Ouvídio trouxera água benta.

Silas amarrou Lésbia com a ajuda dos outros. Pararam diante da casa da colina. Silas meteu o pé na porta e foi entrando arrastando Lésbia as outras olharam surpresas para a cena que se desenrolava.

-Afastem-se filhas de satanás. Eu tenho uma de vocês sob o meu poder.

-Largue nossa amiga! – ordenou Rochelle.

-Irá se arrepender. – ameaçou Silvia.

-Me arrepender do que? Sua vadia endemonhada!

-De interferir onde não é chamado.

Silas chamou os outros que aguardavam o chamado dele. Padre Ouvídio tremia por baixo da batina. Alípio tomou uns goles de cachaça para dar coragem seu Lico e seu Loca montaram guarda na frente da casa.

Alípio amarrou Silvia enquanto o padre amarrava Rochelle.

-Deixa eu ver o que há por baixo dessa batina seu padreco desgraçado. – falou Rochelle passando os lábios na orelha do padre mordiscando-lhe o lóbulo.

-Eu te perdôo filha de Satanás. Não sabes o que fazes. – disse padre Ouvídio.

As três estavam presas. Silas soltou Lésbia diante do olhar perplexo das outras duas.

-Sua cadela do inferno! – cuspi Silvia

-Ela nos enganou! – exclamou Rochelle.

Lésbia sorriu e disse:

-Me vinguei de vocês suas cadelas malditas. –revidou Lésbia. – Por tudo que fizeram de mal ao povo de minha cidade e pelo mau feito à minha irmãzinha.

-Aquela putinha que nós definhamos? – indagou Rochelle Sarcástica.

-Vamos queimá-las! – exclamou Lésbia.

-Queimar? – indagou padre ouvídio.

-Claro padre é a única maneira de fazê-las expurgar todo mal do seu espírito. O fogo purifica a alma dos pecadores.

-Não posso conceber um despautério dessa enormidade. A igreja jamais seria cúmplice disto.

-E o que o senhor sugere? – indagou Silas.

-Devemos levar essas mulheres ao delegado. Ele saberá como agir.

-Me perdoe padre, mas se deixa-las soltas elas fugiram novamente.

-Isso eu não posso permitir. – disse padre Ouvídio.

-Estamos num impasse aqui, não é mesmo? – riu-se Silvia.

-Cala-te Bruxa do inferno! – ordenou Silas.

-Padre não é hora de sermos éticos, precisamos de uma posição. – propôs Lésbia.

-Eu deixo por conta de vocês. Não contem comigo para tal feito. – enfatizou padre Ouvídio.

-Já sei. Vamos leva as bruxa até a praça e lá o povo irá decidir. – sugeriu Alípio.

-Não! – Lésbia quase gritou. – todos se voltaram para ela surpresos. - Acho que o melhor seria fazermos isso agora. Esta casa precisa ser queimada, pois foi aqui que todas as orgia satânicas foram feitas. A casa precisa ser destruída juntamente com as bruxas.-esclareceu Lésbia.

-A Lésbia tá certa. – concordou Silas.

-A casa e dona Corina. – salientou Alípio.

-Ela na certa entenderá e além do mais o preço pago pelo aluguel dará pára ela construir três casas melhores do que essa. – concluiu Lésbia.

Feito isso todos concordaram com exceção do padre Ouvídio que as bruxas precisavam ser exterminadas.

Usaram um galão de óleo que Lésbia já havia deixado separado tendo em vista que ela já tinha esse plano em mente de queimar as bruxas.

O fogo lambeu rapidamente a propriedade. Era possível ouvir os gritos lancinantes de Rochelle e Silvia vindos do interior da casa.

Uma semana depois do acontecido. Dona Corina já havia superado a perda da propriedade, tendo em vista que havia sido para um bom fim.

Lésbia despediu-se de Silas no porto:

-Obrigada pela sua ajuda! Sem você eu realmente não teria conseguido.

-Vou sentir sua falta. – disse Silas.

-Um dia voltaremos a nos encontrar.

-Não poderia permanecer por mais um tempo?

-Não posso. Meus pais estão preocupados comigo. Eu só vim para terminar minha missão e graças à você eu consegui exterminar com aquelas bruxas.

-Adeus! – Silas a tomou nos braços e a beijou demoradamente. Ao se separarem ele comentou sorrindo. Se você fosse uma bruxa diria que me enfeitiçou.

-Não diga isso nem de brincadeira. –repreendeu Lésbia em seguida sorriu.

Trocaram mais alguns beijos.

-Agora preciso embarcar. – disse Lésbia. –Adeus!

-Adeus! Boa viajem!- respondeu Silas.

Naquela mesma manhã , Silas foi até a clinica psiquiátrica visitar seu amigo Xerxes, que por ventura se recuperava bem. Já não mais dizia coisas sem sentindo.

-Xerxes como vai esse pescador? – cumprimentou Silas assim que chegou.

-Agora estou melhor. Ouvi dizer que deram fim naquelas diabas?

-Estão mortas.

-Fico aliviado. Aquelas mulheres quase me mataram. Precisava ver o que elas faziam.

-esqueça amigo. Agora está tudo bem, aquelas duas agora não existem mais.

-Duas?

-Sim. As duas foram queimadas juntamente coma casa de dona Corina.

-E a terceira?

-Como assim terceira.

-Eram três mulheres.

-Uma não era bruxa. Na verdade ela foi quem ajudou a resolver tudo. Lésbia. Ela partiu hoje pela manhã.

-Não! Não podem ter a deixado fugir.

-Do que esta falando?

-Lésbia era a loira. Ela era a chefe. Ela quem comandava a sociedade delas.

-O que?

-Ela enganou você.

-Maldita! – exclamou Silas.- Devem estar rindo a nossas custas. Como pude acreditar naquela desgraçada.

-As bruxas são criaturas ardilosas meu amigo. –respondeu Xerxes.

Num canto qualquer do oceano dentro de um navio com destino ao norte. Três lindas mulheres pareciam se divertir no cassino do navio:

-O seu plano de nos queimar viva junto com a casa foi espetacular! –exclamou a bela mulher negra.

-Aquele trouxa acreditou! – disse a bela ruiva. - rindo

-Todos acreditam nesta história! – gargalhou a loira com sarcasmo.

FIM!