Reencontro

Ele chegou como quem buscava abrigo. Os dois já se conheciam. Não havia mais palavras desconhecidas. Eles se conheciam tanto que a uns tempos, tudo estava claro. Embora o ontem tivesse sido muito pesado, ela ainda sentia uma necessidade dele.

Os olhos fitaram-se com fúrias e mágoas. Mas dentro de cada um algo ecoava. Dava medo. Não tinham saída. Sorriram. Suas mãos tocaram-se friamente, mas ainda existiam um pingo de suor que escorregava pela dureza do coração. Sorriram, pois já não tinham mais saídas. O coração dela pulsou forte, e quase calculando as palavras ela disse:

- O que fazes aqui?

Mas tudo por dentro parecia saltar como uma grande festa. Naquela noite só existiam os dois. Ele deu um passo com um enorme medo. E um pouco sem graça respondeu:

- Estou aqui para viver.

A solidão dos dois era tão vasta que perpassava a luz da vida. Novamente sorriram.

Onde esteve? Perguntou ela. E ele meio chateado pela pergunta respondeu friamente:

-Estive sofrendo...

Eles não precisavam da mortalha do amor, também não precisavam de um amor constante. Apenas o necessário. Precisavam urgentemente viver. Acima de todas as coisas. E enquanto os carros passavam iluminando toda a rua, casais abraçados, pessoas correndo na pressa dos dias, eles estavam ali. Parados. Preso ao olhar um do outro e longe da realidade. E ela com um pouco de culpa, falou com a cabeça um pouco abaixada:

- Foi sem querer...

Ele deu mais um passo, e seus olhos estavam cada vez mais próximos, como um espelho a irradiar suas almas. E seus corpos suavam. Mas suas mãos permaneciam frias, mas juntas. No fundo existia uma dureza infinita. Mas precisavam viver.

Logo suas mãos soltaram-se. Mas não foi de adeus. Abraçaram-se. E uma fúria invadiu seus corpos. Aliás, uma fúria, uma mágoa e um fragmento de amor. Pois este último, não havia acabado.

Entraram. A sala vazia, os móveis dormiam. A casa solitária. Tudo na perfeita esfera que ele havia deixado. A porta do quarto estava aberta e uma esperança entrou.

Amaram-se em silêncio. As palavras não existiam. Mas estavam juntos. E fizeram vida. E viveram. Nunca mais ficaram sozinhos.

Luciana Brito
Enviado por Luciana Brito em 10/08/2008
Código do texto: T1121686
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