É da vida se acostumar
De repente percebi o quanto o mundo está cheio de lamentações. Até ter tido a sensação da sua perda, as músicas eram alegres. Agora eu vejo que por trás de cada melodia tem alguém sofrendo por amor. Depois de perceber isso, o mais difícil foi lidar com a idéia de que não teria você novamente. Lidar com a idéia de que tudo vivido tinha sido ou em vão, ou pra ser causa de saudade.
Como alguém pode viver sozinho? Talvez seja a recompensa da velhice. A resignação e aceitar que o passado foi o que tinha de ser vivido. Mas enquanto se é novo, a perda é muito mais dramática. Mas antes de me envolver tão à fundo, eu achava que a solidão podia ser a liberdade.
Agora mesmo tendo você de volta, a percepção do novo mundo permanece. As pessoas sofrendo por todos os cantos. Eu faço parte das canções agora. Me encontro em refrões que antes achava tão ordinários de ruins.
As alegrias ao seu lado se tornaram mais fortes, ao mesmo tempo em que alguma palavra esquecida ou gesto suspeito tentam me fazer fugir desse lugar de sentimentos à flor da pele. Quem ama passa por cima de muita coisa, você tem razão. E nesse jogo de harmonizar as diferenças me encontro ainda desequilibrada. Isso vai passar? A paz tão sonhada ao seu lado, numa rede em frente ao mar, pode ser um quadro meu. Enquanto não sei se a pintura pode se materializar, dói em mim pensar que posso não estar te satisfazendo como antes, que duas mulheres são melhores do que uma. Mas eu já sabia das suas fantasias. Só não consigo me sentir bem ao lembrar disso, pois como se não bastasse, descobri o que é o ciúme.
Estou feliz por não morrer sem entender os compositores. Sou serena ao seu lado, carregando o peso do muro das lamentações nas minhas costas. Assim eu defino que te amo.