Crime com hora marcada

Conforme o planejado, Aline abriu a porta às vinte e duas horas em ponto. Entrei rapidamente sem que ninguém me visse. Havia acabado de chegar e não precisei aguardar mais do que dez segundos do lado de fora do quarto. A perfeita sincronia de nossos relógios possibilitou que tudo ocorresse com exatidão.

— Ele está tomando banho — ela disse baixinho. — Acabou de entrar lá.

— Ótimo. Nós o atacaremos assim que sair.

Aguardamos por alguns minutos com os ouvidos atentos ao banheiro. Tão logo o chuveiro desligou, nos deslocamos cada uma para sua posição, exatamente como o ensaiado. O homem abriu a porta. Deu um passo à frente e, antes que desse o próximo, sentiu minha arma encostar em sua têmpora direita.

— Não se mexa! — alertei. — Ou juro que explodirei sua cabeça!

— Estique os braços para frente! — Aline ordenou.

Ele a obedeceu e sentiu as algemas se encaixarem em seus pulsos. Era um sujeito grande e gordo.

— Elas estão apertando você? — perguntei.

— Não.

— Aline, prenda-o na cama.

O homem não se opôs. Conduzido por minha parceira, foi amarrado à cama e teve seus olhos vendados. Deitado com os braços esticados e presos para trás, vestido apenas com a toalha presa na cintura, estava completamente indefeso.

— Onde estão as jóias? — perguntei.

— Jóias? Não tenho nenhuma jóia!

— Mentira! — gritei.

Me abaixei sobre seu corpo e o mordi na barriga. Ele gemeu e se sacudiu.

— Lembrou de quais jóias estou perguntando?

— Não.

Sinalizei para Aline. Ela se jogou sobre a perna esquerda do sujeito e começou a mordê-lo na coxa. Fiz o mesmo na barriga. Ele começou a dar pinotes. Parecia receber uma potente descarga elétrica. Seus gemidos e urros ficaram cada vez mais altos. Quase chutou Aline algumas vezes. Caso acertasse uma só joelhada em uma de nós, pagaria por isso.

— Onde elas estão? — insisti.

— Não sei do que está falando!

Paramos de mordê-lo. Retirei alguns de seus pêlos que haviam entrado em minha boca.

— Não vai contar, não é? Chegue para o lado!

O homem deslocou-se para a sua esquerda, deixando um espaço no canto em que eu estava. Subi ali e fiquei de joelhos. Embora fosse uma cama de casal, parecia pequena quando alguém imenso daquele jeito a ocupava.

— Talvez você lembre das jóias se chupar meu dedão do pé!

Aline riu. Diante do olhar de advertência que lhe fiz, suspendeu o riso imediatamente. Estiquei minha perna e, cuidadosamente, enfiei o dedão na boca do homem. Ele começou a chupá-lo.

Permaneci com a perna esticada por quase dois minutos. Depois, sentindo dores na região lombar, saí daquela posição incômoda. Enxuguei na colcha o dedo babado de saliva. Deitei ao lado do sujeito. Enquanto passava a mão em sua barriga, encostei a boca em seu ouvido e sussurrei:

— Lembrou das jóias?

— Não! Não contarei sobre as jóias! — ele disse exaltado. — Vocês terão que me torturar muito se quiserem saber onde elas estão!

Olhei para o relógio. Iria torturá-lo por mais doze ou treze minutos. Depois disso precisávamos ir embora. Um outro cliente nos aguardava. Sairíamos dali como ladras, chegaríamos lá como duas colegiais. Também podíamos ser enfermeiras, salva-vidas, policiais, personagens de contos infantis e tudo o mais que a imaginação do cliente pedisse e ele fosse capaz de bancar.

E eu, que sonhava em ser atriz de novela, interpretava cada papel com a maior dedicação possível, me superando a cada novo trabalho.

Leonardo S
Enviado por Leonardo S em 09/08/2008
Reeditado em 09/08/2008
Código do texto: T1120338
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