CHIQUITA DO CORAÇÃO

Lá por volta de mil novecentos e oitenta e um ela me fora um presente do coração, uma bonequinha de olhos espertos, arregalados e pintados, sorriso amplo, e de chiquinhas de lã azul.

Pequenina, media duas polegadas...toda trabalhada em pedra branca que lembra alabastro.

Mas com certeza,trata-se duma pedra menos nobre.

Há um tempo em que nossos olhos vêem a beleza do que realmente é belo e importante. É isso já nos é tudo.

Habitava as barraquinhas dos camelôs, mas naquela época, eu não me lembro dum presente tão simples, que tenha me feito mais feliz.

Não tinha nome. E hoje eu a batizei para aqui dela contar.

Chamá-la de PEDRITA seria plagiar a idade da pedra.

Mas embora o tempo tenha passado, ela me acompanha pela vida.

Certo dia, desavisadamente, eu a derrubei ao chão.

Partiu-se, mas dela me restou o melhor pedaço: Os olhos espertos, o sorriso largo, e as chiquinhas ainda azuladas.

Hoje pela manhã, estava lá sobre a mesa da cozinha, ainda sorrindo pra mim;quando então pude entender a sua eterna mensagem.

Na vida há o que só aparentemente se quebra, embora insistentemente continue íntegro dentro de nós.