Falando sério...

Um nó na cabeça e tropeços no andar fatigado, as ancas caídas e peito sôfrego não desanimavam a mãe desesperada em busca do filho desaparecido.

Já passava das cinco da tarde quando em lágrima e gritos toscos Dona Silvana ainda corria de um lado para outro dentro da estação de metrô em São Paulo. A multidão se debatia por um espaço no corredor que levava à bilheteria e a mulher agonizava em meio a esse turbilhão.

Às duas da tarde o garoto de quatro anos segurava firme na mão de Dona Silvana até o momento em que ela o soltou para apanhar o bilhete na bolsa. Não deve ter durado nem dois minutos e foi tempo suficiente para desaparecer do local o menino Fernando. Espantada ela olhou para todos os lados chamando-o pelo nome. Os seguranças da estação Bresser foram alertados e imediatamente posicionaram-se nas saídas, mas nenhuma criança passou por ali. Os trilhos foram examinados, e nada. Os banheiros evacuados, os nichos, as pequenas lojas. Todos foram indagados e ninguém viu a criança.

A Polícia Militar foi chamada e Dona Silvana espumava pelo canto da boca enquanto gritava ao tentar contar o ocorrido. Desmaiou por alguns segundos e foi socorrida pelos paramédicos de plantão. A estação foi bloqueada por quase uma hora e novamente tudo foi vasculhado, na Bresser e em todas as outras estações. Pela câmara de segurança era visível a criança segurando a mão da mãe ao descer pela escada rolante. Na catraca uma multidão aglomerou-se e a criança não pôde mais ser vista.

Noite alta e a mulher não queria ir para casa sem o seu Fernando. O que diria aos outros dois filhos? Como relatar essa desgraça para o esposo que sofria do coração? Mãe relapsa que era. Como encarar a vida tendo como carga esse pecado pesado de não ter sido capaz de cuidar de uma criança de quatro anos? Abatida ela encontra forças para correr de encontro ao último trem que chegava à Bresser naquele momento...