Viver

Carla, chamava atenção onde chegava. Mulher bonita, alta, esbelta, nariz aquilino, boca bem feita, sorriso meigo, fala doce e pernas bem torneadas.

Em uma noite de verão, junto com amigos, conheceu um rapaz da serra gaúcha por quem se interessou e cujo relacionamento resultou em uma gravidez não programada e que mudou totalmente sua vida. Ainda muito jovem, Carla abdicou de sua vida de estudante a fim de trabalhar para dar a oportunidade de estudo ao marido o0 que o permitiu ser aprovado em concurso público, de âmbito nacional, cuja aprovação levou a família a estabelecer-se em Brasília (DF).

Após oito anos de casamento, Carla ainda amava o esposo, que continuava bonito, porém era rude com ela.

Quando da transição presidencial de 1989, seu marido foi escolhido segurança* do Presidente Collor, devido ao seu bom desempenho na carreira militar, o que a deixou muito feliz, tanto pela ascensão do marido como pela conseqüente melhoria da situação financeira do casal.

Com o passar do tempo, as perspectivas de Carla de uma vida conjugal e financeira estáveis não se concretizaram, pois seu marido, pouco tempo depois de assumir o novo posto, envolveu-se sentimentalmente com outra mulher o que provocou a separação do casal, após vários conflitos.

No Natal de 2001, acompanhada do único filho do casal, retornou a sua cidade de origem, na esperança de que essa ausência sensibilizasse o esposo, levando-o a sentir a falta de ambos, afinal, tratava-se de uma união de dez longos anos.

Em julho do ano seguinte o garoto retornou à casa do pai para passar as férias escolares, ocasião em que sentiu falta do carro da família, que havia sido entregue a nova companheira do pai, como presente, fato levado ao conhecimento de sua mãe. Imediatamente, Carla enfrentou uma viagem de ônibus, longa e cansativa para Brasília, para definir a situação conjugal.

Chegando lá, optaram pela separação amigável, ocasião em que foi feita a partilha dos bens, cabendo a Carla o automóvel, que foi resgatado da nova proprietária, e metade da mobília, já que não havia outros bens.

Retornando ao Sul, em companhia do filho, o carro foi vendido para a aquisição de uma casa. Ela também decidiu voltar a trabalhar, tanto para completar o orçamento como para refazer sua vida.

A caminho do trabalho, Carla conheceu Antonio, que todas as manhãs apanhava o mesmo transporte que ela, fato que os aproximou levando-os a saírem juntos para jantares, festas, cinemas. etc, o que terminou em namoro e algum tempo depois eles passaram a viver juntos.

Ao contrário do primeira marido, Antonio era muito gentil, saíam sempre juntos, ele a surpreendia com suas flores preferidas, com saborosos bombons de licor de menta e, ainda, tinha grande afinidade com seu filho. Ela estava novamente muito feliz, inclusive tendo retomado os estudos: agora ela freqüentava a Curso de Marketing.

Um dia, um mal estar na rua levou Carla a procurar um médico, ocasião em que se queixou de uma certa debilidade física e o médico mandou fazer uma check up. A doença evolui a tal ponto de necessitar de alguns meses de internação levando-a depressão e, progressivamente, à cegueira.

Antônio, apesar de ter feito Carla superar a decepção do primeiro matrimônio transmitiu-lhe o vírus HIV.

Mas, novamente ela recolheu os pedaços de sua existência e não desistiu de viver.

18/07/2008