CAI NA REAL, MULHER **?**
Zilá mexia o doce na panela, mas ela não estava ali, estava longe, longe, no passado que ficou na lembrança em um cantinho do cérebro. Mexia, mexia o doce, lembrava de como era feliz naquele tempo - como era bom! Era amada por seu marido; mexia pra lá e pra cá o doce para não queimar. Então lembrava de como ele a beijava, beijo na boca de língua e tudo. Ela estremecia o corpo todo, corpo que era lindo e cheiroso.
Hoje, Zilá mexe o doce e se veste de qualquer jeito, cheiro? Tem! De tempero.
Antes, seu marido a abraçava com desejo, com gosto, e com uma pontinha de maldade, que crescia em seus olhos. Hoje, já não a abraça, só dorme.
Zilá nem faz as unhas, só corta. Não penteia os cabelos, só dá um nó, põe um lenço e mexe o doce, mexe, mexe, para não queimar. Zilá usa chinelos velhos, pés rachados...
E lembrava que naquele tempo o marido levava flores ou outro mimo qualquer.
Hoje, não lhe dá nada, ou melhor: dá sim, roupas sujas para lavar.
Mexe, mexe se não desanda o doce; é sobremesa para o jantar, não pode queimar! Suava a roupa, que roupa que nada! Trapos, camiseta velha, rasgada e encardida. Então lembrava quando suava nos braços do marido, de amor, que gostoso! Por que não é assim de novo!
Um pingo de doce quente lhe pinga no rosto; Zilá corre ao espelho, que “SUSTO!” Com o queimado? Que nada! Com seu rosto sujo, suado, sem pintura, sem cuidado, que desleixo Zilá.
Corre, olha o doce, mulher, ta queimando!
- Doce! Que nada! Vou cuidar de mim.
- O doce quando eu estiver linda, ganho do meu marido que me trará da padaria.
(É muito importante ser uma boa dona de casa, porem é essencial ser mulher.)