AMOR SEM TEMPO DE TER TEMPO
Quando teus braços me envolveram pela manhã já não havia mais tempo para dizer não. Nos pensamentos enroscados pelas tuas idas e vindas, o cheiro de café atropelou o dia e nos fez querer estar um pouco mais.
Na volúpia dos beijos emoldurados, o desejo de morder a tua nuca bem devagar se fez mais forte. Despidos de nossas desventuras, traçamos o futuro com o toque dos dedos percorrendo o corpo um do outro. Tudo era troca. Tudo era encanto.
O gosto do teu beijo fez realçar a paisagem do outro lado da janela, embora, em momento algum, cogitássemos sair daquela cama. Sem pesar prós ou contras, nos entregávamos como pássaros evadidos. Amor doce e quente a nos lembrar dos parques onde jamais estivemos.
Conhecíamos tão bem as nossas vontades a ponto de recusar perguntas. Trazíamos respostas cravadas no peito. O teu dorso nu amplificava o quarto cheirando a amor e sexo. Tudo na medida exata. Nossos telefones permaneciam desligados. Nada além poderia fazer parte do cenário. Nenhuma interrupção era permitida. Assim havíamos combinado.
Combinamos também manter silêncio absoluto sobre nosso universo paralelo. Tínhamos apenas dois dias para experimentar todos os sabores da nossa mútua admiração. Então, muitas vezes, olhávamos e escutávamos nossos anseios sem pronunciar uma palavra que fosse. A ducha fria na madrugada ajudava a nos manter acordados. Não podíamos fechar os olhos, pois desconhecíamos quando estaríamos juntos novamente. Se é que isto iria ser possível.
Amantes e apaixonados tentávamos a todo custo nos livrar da prova que poderia magoar a outros, além de nós mesmos. Guardávamos tal insensatez como punição, embora não considerássemos tais encontros erro ou pecado. Não passava por nossas mentes a intenção de mudar nossas vidas. Queríamos aprisionar num canto o sigilo das nossas trocas. A sensação atordoada dos nossos corações descompassados ao mesmo tempo. Como ponteiros sobrepostos.
Claro, em alguns dias, arroubos nos levavam a manter um breve contato. Nada que pudesse avassalar as nossas rotinas. Nas 48 horas a nós reservadas naquele mês, importava apenas o princípio. O fim, o fechar da porta, o ir embora, tudo isso parecia longe de acontecer, embora vivesse acontecendo.
Aprendemos a linguagem pálida dos seres perdidos num só. Nossa falta era só nossa e de mais ninguém. Tão nossa que amanhecia tatuada pelas paredes dos lugares aonde íamos depois, sem notar as pegadas que havíamos deixado no chão do nosso quarto. Aquele destinado a guardar retratos nunca capturados, simplesmente para não ter como olhar o momento congelado.
Éramos o que pretendíamos: amor em movimento; desejo em gestação; verso a saltar dos olhos sem nunca tocar o papel. Éramos o que não conseguíamos ser com os nossos pares. Faltava-lhes a imparcialidade de saber amar sem possuir de fato.
A beleza de tudo em nós residia no desprendimento. Neste não-ciúmes, que nos permitia estar sem nos deixar corroer pelas flechas envenenadas da desconfiança. Tínhamos a harmonia estranha dos mistérios; a elasticidade permanente da saudade; e até o olhar entrecortado dos acertos. Vagos, mas plausíveis. Éramos o ímpar. O que não se escolhe e só se esconde.
Quando teus braços me envolveram pela manhã já não havia mais tempo para dizer não. Nos pensamentos enroscados pelas tuas idas e vindas, o cheiro de café atropelou o dia e nos fez querer estar um pouco mais.
Na volúpia dos beijos emoldurados, o desejo de morder a tua nuca bem devagar se fez mais forte. Despidos de nossas desventuras, traçamos o futuro com o toque dos dedos percorrendo o corpo um do outro. Tudo era troca. Tudo era encanto.
O gosto do teu beijo fez realçar a paisagem do outro lado da janela, embora, em momento algum, cogitássemos sair daquela cama. Sem pesar prós ou contras, nos entregávamos como pássaros evadidos. Amor doce e quente a nos lembrar dos parques onde jamais estivemos.
Conhecíamos tão bem as nossas vontades a ponto de recusar perguntas. Trazíamos respostas cravadas no peito. O teu dorso nu amplificava o quarto cheirando a amor e sexo. Tudo na medida exata. Nossos telefones permaneciam desligados. Nada além poderia fazer parte do cenário. Nenhuma interrupção era permitida. Assim havíamos combinado.
Combinamos também manter silêncio absoluto sobre nosso universo paralelo. Tínhamos apenas dois dias para experimentar todos os sabores da nossa mútua admiração. Então, muitas vezes, olhávamos e escutávamos nossos anseios sem pronunciar uma palavra que fosse. A ducha fria na madrugada ajudava a nos manter acordados. Não podíamos fechar os olhos, pois desconhecíamos quando estaríamos juntos novamente. Se é que isto iria ser possível.
Amantes e apaixonados tentávamos a todo custo nos livrar da prova que poderia magoar a outros, além de nós mesmos. Guardávamos tal insensatez como punição, embora não considerássemos tais encontros erro ou pecado. Não passava por nossas mentes a intenção de mudar nossas vidas. Queríamos aprisionar num canto o sigilo das nossas trocas. A sensação atordoada dos nossos corações descompassados ao mesmo tempo. Como ponteiros sobrepostos.
Claro, em alguns dias, arroubos nos levavam a manter um breve contato. Nada que pudesse avassalar as nossas rotinas. Nas 48 horas a nós reservadas naquele mês, importava apenas o princípio. O fim, o fechar da porta, o ir embora, tudo isso parecia longe de acontecer, embora vivesse acontecendo.
Aprendemos a linguagem pálida dos seres perdidos num só. Nossa falta era só nossa e de mais ninguém. Tão nossa que amanhecia tatuada pelas paredes dos lugares aonde íamos depois, sem notar as pegadas que havíamos deixado no chão do nosso quarto. Aquele destinado a guardar retratos nunca capturados, simplesmente para não ter como olhar o momento congelado.
Éramos o que pretendíamos: amor em movimento; desejo em gestação; verso a saltar dos olhos sem nunca tocar o papel. Éramos o que não conseguíamos ser com os nossos pares. Faltava-lhes a imparcialidade de saber amar sem possuir de fato.
A beleza de tudo em nós residia no desprendimento. Neste não-ciúmes, que nos permitia estar sem nos deixar corroer pelas flechas envenenadas da desconfiança. Tínhamos a harmonia estranha dos mistérios; a elasticidade permanente da saudade; e até o olhar entrecortado dos acertos. Vagos, mas plausíveis. Éramos o ímpar. O que não se escolhe e só se esconde.