AMOR CALADO
O amor parou na porta do quarto. Estava cintilante, meio homem, meio mulher, à espreita daquela lágrima que invadiu o dia em que você partiu. Não dizia nada. Não pedia nada. Estava ali, quase ao alcance das mãos, como as minhas mãos estiveram um dia ao alcance das suas. Mas não poderia tocá-lo. O amor, este ser de tantas variações, marcava a imagem que a minha mente, embotada pela saudade, ainda traz para a porta do quarto e faz deitar na cama, ao meu lado, num ninho de carinho onde, agora, parecem ter crescido espinhos ou cactos do deserto da minha alma.
Depois, veio o seu rosto dormindo, a lembrança que não se apaga com a ausência e aquela vontade de tomar o amor nos braços e fazer com que ele sonhasse os seus sonhos. Não aconteceu. Trocamos as calçadas. N ão cruzamos mais os nossos olhos nem as nossas bocas se entreabriram para os nossos beijos. Aqueles que deixamos de dar. O amor estava parado na porta do quarto e não havia mais ninguém em casa. Nem eu.
No dia seguinte, foi a mesma coisa. O amor parado na porta do quarto e a tua voz ecoando no peso intocável da falta. Continuava ali, sem dizer nada, sem pedir nada, à espera, talvez, de um reflexo dele mesmo onde só havia a dor. Cruzei os oceanos desta solidão antiga e quase bati o meu barco no teu. Mas o mar é grande demais e a saudade só se vê ao longe. E o amor, parado ali na porta do quarto, amplificando a vontade que tive de que tudo fosse o sonho proposto e desenhado na imagem anterior, quando o amor, este ser de tantas variações, parecia colado à nossa pele, enchendo o dia de sol, enquanto a chuva batia na vidraça, numa doce ilusão de nós mesmos.
* Publicado em A TARDE em 15/01/2000
O amor parou na porta do quarto. Estava cintilante, meio homem, meio mulher, à espreita daquela lágrima que invadiu o dia em que você partiu. Não dizia nada. Não pedia nada. Estava ali, quase ao alcance das mãos, como as minhas mãos estiveram um dia ao alcance das suas. Mas não poderia tocá-lo. O amor, este ser de tantas variações, marcava a imagem que a minha mente, embotada pela saudade, ainda traz para a porta do quarto e faz deitar na cama, ao meu lado, num ninho de carinho onde, agora, parecem ter crescido espinhos ou cactos do deserto da minha alma.
Depois, veio o seu rosto dormindo, a lembrança que não se apaga com a ausência e aquela vontade de tomar o amor nos braços e fazer com que ele sonhasse os seus sonhos. Não aconteceu. Trocamos as calçadas. N ão cruzamos mais os nossos olhos nem as nossas bocas se entreabriram para os nossos beijos. Aqueles que deixamos de dar. O amor estava parado na porta do quarto e não havia mais ninguém em casa. Nem eu.
No dia seguinte, foi a mesma coisa. O amor parado na porta do quarto e a tua voz ecoando no peso intocável da falta. Continuava ali, sem dizer nada, sem pedir nada, à espera, talvez, de um reflexo dele mesmo onde só havia a dor. Cruzei os oceanos desta solidão antiga e quase bati o meu barco no teu. Mas o mar é grande demais e a saudade só se vê ao longe. E o amor, parado ali na porta do quarto, amplificando a vontade que tive de que tudo fosse o sonho proposto e desenhado na imagem anterior, quando o amor, este ser de tantas variações, parecia colado à nossa pele, enchendo o dia de sol, enquanto a chuva batia na vidraça, numa doce ilusão de nós mesmos.
* Publicado em A TARDE em 15/01/2000