Concorrência oculta

Acordou assustada depois de ter sonhado com a própria morte. Olhou atordoada para a janela que ostentava a mesma cortina ordinária desde que se mudou para lá, e constatou que nada havia se alterado. Foi mais um daqueles pesadelos. O corpo suado, a respiração ofegante e o pavor já faziam parte de suas noites.

Há um ano reside no apartamento desprezível da zona do baixo meretrício. Teme ser confundida com as profissas do local. Tenta evitar que as mocinhas sintam-se ameaçadas procurando fazer um estilo mais clássico no vestir, usa maquiagem sóbria e um perfume suave que não desperte atenção dos cavalheiros. Na maioria das vezes chega de carona para evitar confronto. Não tem sido fácil!

Uma noite atravessando à pé a zona de trabalho, sofreu inúmeras ameaças por parte das raparigas. Algumas chegaram mesmo a esboçar um linchamento. Fugiu em disparada para sua kiti e permaneceu trancafiada durante todo o final de semana. À partir daí começou a ter os tais sonhos onde as prostitutas sempre a perseguem ou a matam impiedosamente.

Já experimentou diversas formas de morrer mas depois que Estela viu seu próprio corpo boiando sem vida na banheira de casa, suas noites nunca mais foram as mesmas. O sono se foi, os sentidos ficaram mais aguçados, os pequenos sobressaltos agora acontecem com renovada freqüência. Ao acordar sempre olha seu corpo e estranha a si mesma.

Depois que descobriram sua verdadeira identidade, Francisco teme pela sobrevivência de Estela.