Este conto foi enviado ao Concurso do Jornal o Estado de São Paulo - 
O tema era
"Não quero mais esses negócios de você longe de mim".
De acordo com o regulamento do concurso está sendo publicado no site após a divulgação do resultado final e não foi premiado.


NÃO QUERO MAIS ESSES NEGÓCIO DE VOCÊ


Juliana era uma mulata muito da tentadora... 
Fazia gato e sapato dos namorados e pretendentes... 
Ia ficando, ganhava presentes, jóias e depois de certo tempo enjoava-se, ficava tristinha e acabava o relacionamento... 
Muitos enamorados terminaram noites em balcões tomando conhaque e machucando os cotovelos... 
Juliana não tinha jeito... 
Havia aqueles que não se arriscavam a paquerar a moça... 
Só lambiam com a testa... 
Emilio era um deles... 
Bom moço, filho do dono de uma loja de tecidos, onde trabalhava doze horas por dia... 
Bem de vida, mas não caía nas graças da Juliana... 
Era muito tímido e meio feinho... 
Tinha suas esperanças, que desmoronaram quando soube que Juliana se casara... Uma vez... 
Duas vezes... 
Três vezes... 
Bom lobo não perde a essência... 
Um dia, Juliana, solteira, entra na loja... 
Emilio resolveu arriscar... 
Conversou com a moça e conseguiu o telefone... 
Já não era aquele “monumento”, mas ainda era a mulher de seus sonhos... 
Ele era um romântico... 
Acreditava em amor platônico e que quem espera sempre alcança... 
Mandou flores... 
Ela lhe telefonou... 
Saíram para um jantar, dormiram juntos no apartamento dela, ficaram apaixonados... 
Foram morar juntos para ver se dava certo antes de casarem... 
Pelo sim, pelo não, uma lua de mel antecipada pelas praias do Nordeste... 
Juliana arrasou... 
Um biquíni menor que o outro... 
Juju, como ele docemente a chamava, confessou um desejo... 
Montar uma clinica de estética... 
Mimi perguntou-lhe se entendia do assunto... 
A gente aprende... 
Contrato uma manicura, uma cabeleireira, respondeu Juju aos biquinhos, beijos e afagos.... 
O apaixonado consorte fez-lhe a vontade... 
Nada de ver dinheiro... 
Contas chegando... 
Aluguel, energia elétrica, água, manutenção de aparelhagem... 
Temos de fechar a clinica... 
Os carinhos da Juju começaram a minguar... 
Ela já não era mulher para um homem só... 
E ainda insatisfeita?... 
Estava no sangue... 
Frente ao espelho, pensando bem, não quis perder o “partidão” e se esforçou... Mimi, disse, fazendo beicinho: “E se eu abrisse uma lojinha de bijuterias?” 
Um mês de carinhos, afetos e a “autilete” foi montada... 
Nada de entrar dinheiro... 
Fornecedores, aluguel, energia elétrica, só despesas... 
Temos de fechar, sentenciou Mimi... 
Juju murchou novamente... 
Uma noite, Emilio estava envolvido com as contas... 
Coçava a cabeça, calculava, recalculava, mordia o lápis... 
Juliana com mais idéias luminosas... 
Chegou de mansinho, enlaçou Emilio por trás, soprou-lhe a nuca, mordiscou-lhe a orelha... 
Mimi tentou se esquivar, mas Juju sentou-se em seu colo e deu-lhe mais abraços e beijinhos... 
Mimi animou-se, pensando em carinhos sem ter fim... 
Ela interrompeu o beijo e lhe falou: “E se eu começar a revender lingeries?...” 
Emilio desvencilhou-se e disse, com forte sotaque árabe:
 “Não quero mais esse negócio de você... Longe de mim...” 
E continuou a fazer as contas... 
Hoje mora sozinho e fica feliz com as namoradas que, apenas eventualmente, arruma... 
Juliana foi “encantar” em outra freguesia...
 
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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 11/07/2008
Reeditado em 13/07/2008
Código do texto: T1075844
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