Inverno de amor
O inverno chegou. E com ele as lembranças infindas e o desejo ardente de vivenciar novas e indescritíveis sensações. De que vale viver se não correremos riscos? Se não temos a coragem de ir ao encontro de um grande amor? É tão difícil viver um grande e inesquecível amor...
“Quando assisti ao filme de “Romeu e Julieta, Tristão e Isolda” e outros mais que não me recordo agora, ficava pensando que aquelas cenas amorosas, os riscos que corriam eram pura fantasia, na verdade não poderia existir amor tão grande assim. Oh, o destino me pregou uma imensa peça! Amei loucamente uma pessoa, idolatrei, adorei e desejei com todas as minhas forças tê-la comigo para toda a vida. Passei noites e dias suspirando, cantando músicas apaixonadas, fazendo cartas, pensando nela...Mas...Amei sozinha! Escondi esse amor, sufoquei-o dentro do peito, chorei, sofri, escondi meus sentimentos por medo de não ser correspondida. De que vale viver sem riscos? Que covardia!
O inverno chegou. E com ele as lembranças infindas. O caminhar lento do amado, o olhar penetrante e ao mesmo tempo sonhador, a voz macia, os gestos simples, o corpo aquecido pelos casacões, o cachecol cor de cinza, os passos pelas calçadas molhadas nas noites frias. E eu a observar atentamente pela fechadura da porta o movimento do ser adorado quando saia para beber vinho e conversar em casa de amigos ao pé de uma lareira.
Todo ano, era a mesma coisa, os amigos se reuniam para contar piadas, ouvir músicas, namorar... Os anos foram passando, ele se foi para outra cidade, casou e só retornou anos depois. E eu? Ah, eu fiquei murchando aos poucos, delirando por um amor solitário. Romeu e Julieta? Tristão e Isolda? Sim, poderia ter vivido uma história real, mas preferi guardar segredo e sonhar com esse príncipe por toda a minha vida.
Hoje, velha, viúva e mais solitária ainda, o inverno dói os meus ossos, mas as lembranças me reconfortam. Ainda olho pela fechadura e o espero passar...