Passaredo
Um dia desses apareceu por aqui um sabiá perneta. Imagine um sabiá saci. Pulava de um canto a outro, paciente como nunca vi. Alternava os lugares desejados com dificuldade. Depois de um dia e uma noite pulando com uma perna só, aquietou-se embaixo de uma árvore. No começo estava assustado com as pessoas daqui, mas com o passar das horas tranqüilizou-se quanto a nós. Ao anoitecer fechamos a casa como de costume para o nosso merecido descanso. Ao amanhecer, lá estava ele, ou ela não sei, mas parecia faminto (a). Dei-lhe alguns grãos e água e assim passou-se mais um dia de pula-pula, porém, agora era diferente, pois seguia os meus passos, um pouco distante é claro. Naturalmente duvidoso, pois ele não nos conhecia. As crianças faziam festa com a tal avezinha que de tão linda e fofa, parecia ser um anjo perdido que aqui veio fazer sua morada. Foi aí então, que decidimos adotá-la. Mais uma noite e um dia se passou. Notei que depois de algum tempo ela cessou o seu pula-pula. Meio parada e triste olhava pra mim, seus olhinhos pareciam querer falar e emocionava-me, mas ela não deixava que eu me aproximasse, mas eu a observava de longe.
Na tarde do dia seguinte, diante de todos, feito bailarina levantou vôo e se foi pelos ares. Entrou mata a dentro pra não mais voltar. Um momento de alegria e tristeza para nós que a acompanhávamos, pois já havíamos lhe dado até um nome, “Catarina”. Alegria por vê-la em plena liberdade voando para a mata, o habitat natural dos pássaros. E triste por perder nossa mais nova hóspede. Durante alguns dias o terreiro ficou vazio e parecia maior que o seu tamanho normal. Depois de algum tempo quando já não mais a esperávamos vimos um bando de pássaros se aproximando. Entre eles, vários sabiás. Um belo passaredo sobrevoando as nossas árvores. Não importa a estação do ano desde então, eles sempre vem. Entre eles, vê-se a harmonia, e a colaboração, uma verdadeira ação entre amigos. Ainda podemos ouvir um belo musical passarinheiro pelas manhãs e tardes. Sempre! Não importa se antes ou depois da chuva, eles sempre têm um espetáculo pronto para nos encantar. Ao entardecer, já quase chegando à noite elas se retiram em bando, mas sempre fica uma para trás, fingindo-se perdida. Não sei não, mas parece que tem sempre uma delas se sentindo parte da nossa família. Ainda não sei se é sempre o mesmo sabiá, mas para mim, todos são iguais a Catarina.
Lili Ribeiro