Conversando com Joana, de Clarice Lispector.
Conversando com Joana, por Gabriella Gilmore.
(Inspirado na história de Clarice Lispector “Perto do Coração selvagem”)
-Não estou aqui para questionar seu furto, mas sim saber o que te impulsionou para fazê-lo e como se sentiu depois do flagrante da sua tia. Questionou o professor.
-Roubar é errado quando você sente medo. (pausa) Eu não senti nada. Retrucou Joana.
-Não sente receio do inferno? A bíblia diz claramente a respeito de roubar.
-Não.
-Não o que? Não sente medo do fogo eterno ou não sabia sobre esse mandamento bíblico?
-Simplesmente, não!
-Assim será difícil te ajudar Joana. Diga-me, o que é certo e o que é errado?
-Não sei...
-Mas isso não é resposta. (pausa) Você deve ter um leve saber sobre isso, sobre a diferença.
-Mas há coisas que são erradas para uns e para outros não, oras! Como poderei saber? O meu limite é a dor. Se não me doeu em nada, significa que não é tão mal assim.
-Se você tivesse outro pai, este estaria se remoendo no túmulo. Mas me diga, por que tantas questões, tanta busca se você insiste em ficar só no “Não sei” “Talvez”?
-Se eu tivesse todas as respostas eu não precisaria mais estar à procura.
-E isso é ruim?
-Não. Mas seria chato.
-Então ter tudo pronto é chato?
-É. Eu me mataria.
-Você peca só em falar.
-Pecado. Pecado. Acho que essa palavra significa limite, não?
-Por quê?
-Porque às vezes você não faz algo porque é “pecado”, então você volta atrás.
-O que você mais gosta?
Ela pensou, pensou, deu um leve sorriso e respondeu:
-Não sei. Não SEI!!!
-Mas você fez uma cara tão contente de que sabia o que ia responder!
-Mas talvez o que eu goste hoje não venha a gostar amanha!
-E se eu mudar a pergunta?
-E se eu não quiser responder? Perguntou ela já enjoada do papo.
-Bem... (pausa)
-Às vezes sinto dor sabe? Disse ela interrompendo o silêncio. Sinto frio na barriga com certas perguntas e até com certas dúvidas.
No fundo ela não sabia aonde o professor queria chegar, já que sobre o furto eles não mais tocaram no assunto.
-Olha Joana, nunca sofra por não ter opiniões em relação a vários assuntos. Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la.
-E o que vai acontecer comigo?
-(silêncio) Não sei.