O Cadarço

Por mais bem dado que fosse o nó,era só andar alguns metros para o cadarço desamarrar-se e arrastar no chão.Weber tinha um carinho especial por aquele sapato,mas o pequeno incômodo começava a trazer-lhe problemas.Certa vez tropeçou feio e caiu a poucos centímetros de um cão de rua,que quase arrancou sua orelha direita;fato que não aconteceu devido a pronta intervenção de um amigo,que espantou o animal.Em outra oportunidade,na pista de dança de uma boate,desequilibrou-se e esbarrou num segurança,que pensou que ele fosse um baderneiro.Até conseguir explicar que tinha tropeçado no cadarço já havia levado três safanões.

Weber concluiu que o tecido do cordão era muito liso,o que facilitava a abertura do nó ao caminhar.

Não fosse um presente de sua avó materna,o calçado já teria sido dado a um conhecido,ou "doado" a alguma instituição de caridade.

É verdade que uma outra alternativa fora tentada:Weber percorreu várias sapatarias e procurou um outro tipo de cordão,mais crespo.Acontece que,por mais que procurasse,não encontrava um que combinasse com a cor do sapato.A única vez em que encontrou a tonalidade satisfatória,o cadarço era ainda mais liso que o seu,tornando inútil a troca.

Como aquele sapato era a última lembrança material do carinho que sua avó nutria por ele(ela falecera pouco tempo depois de presenteá-lo),Weber tentaria de tudo para estender ao máximo a vida útil do calçado.Por isso,quando ele soube da inauguração de uma sapataria na Tijuca,próximo de seu trabalho,reservou um dia na semana para,na hora do almoço,ir lá e tentar achar o cadarço.

O escritório em que trabalhava ficava no Maracanã e a loja na praça Saens pena.Para não correr o risco de comprar um cordão que não combinasse,Weber resolveu usar os sapatos dados pela avó.De metrô foi até o Estácio,onde fez baldeação;depois passou pelas estações de Afonso Pena,São Francisco Xavier,e chegou ao seu destino,na praça Saens Pena.Subiu as escadas e ganhou a rua.Andando o mais rápido que podia com aqueles cadarços,logo Weber examinava a vitrine da sapataria.Ficou surpreso ao vislumbrar no interior da loja uma colega de ginásio que não via há muito tempo.A moça de cabelos castanhos e nariz arrebitado tinha sido sua paixão secreta nos incertos anos da adolescência.Surpreso com a dificuldade que teve para atravessar a porta,Weber chegou até o balcão,ficando na linha de visão da colega.Ao reconhecê-lo,a jovem o cumprimentou abrindo um sorriso:

__Weber!Que surpresa!Está lembrado de mim?

Aquela pergunta soava estranha para ele.Como esquecer aquele sorriso?como esquecer o olhar brejeiro que o deixara tantas vezes sem ação,abobado?Se falasse a verdade,o quê a moça iria pensar dele?Fingiu surpresa e respondeu:

__Lidia,não é?Tudo bem com você?

__Tudo.Pôxa;legal te encontrar.Você mora na Tijuca?

__Não,eu só vim aqui para comprar um cadarço.

__Eu também.Mas que coincidência.

Neste momento,o vendedor traz um cadarço e mostra para Lidia.Ela examina e aprova a cor.Weber vê que é justamente a cor que combina com seu sapato.Antes de pedir um para si,pede à Lidia que o deixe conferir a textura do material.Para seu alívio,trata-se de um cadarço mais crespo,que certamente não desamarrará tão facilmente quanto o atual.Exultante,pede ao vendedor:

__Eu vou querer dois pares desse.

__Esse é o último do tipo__responde sem jeito o funcionário,apontando para o cadarço que está nas mãos de Lidia.

__Você está de brincadeira!

__Infelizmente não.Hoje em dia as coleções são modificadas continuamente.Acho que não teremos mais desse,que é um modelo antigo.

Lidia repara na expressão de tristeza do colega e fica desconcertada.Afinal,involuntariamente havia impedido que weber comprasse o cadarço.Meio sem jeito,ensaia uma meia desculpa:

__Eu escolhi esse modelo por que é o único que combina com um sapato que meu pai adora.O problema é que o atual é tão li...

__É tão liso que desamarra toda hora,não é?__interrompe a frase quase bruscamente Weber.

__Ué;como você sabe?

__Experiência própria.Olha

Weber aponta para os pés e Lidia,vendo os cadarços desamarrados, entende de imediato.Não contendo o riso,a moça diz:

__Não acredito!É igualzinho ao do meu pai!

__Quantos tombos ele levou até agora?

__Vários.Mas o pior aconteceu no aniversário de minha mãe,mês passado.Na hora de servir o bolo aos convidados,ele deixou cair um pedaço em cima da minha avó materna,que estava sentada numa mesa próxima.Até hoje ela não acredita que foi sem querer.

__Isso é que é estresse!

__E põe estresse nisso.

Os dois conversaram por mais alguns minutos.Weber tranquilizou a colega,dizendo que não estava chateado por perder o cadarço.Falaram de colegas em comum,trocaram telefones e despediram-se.Ao beijar Lidia no rosto,Weber sentiu o perfume levemente adocicado de sua pele e voltou no tempo,sentindo-se um garoto que curte seu primeiro amor platônico.

Saiu da loja e entrou no fluxo de pessoas que andavam apressadas.Caminhou alguns metros e ouviu um grito feminino.Ao virar-se,foi atingido por um pivete que passou correndo por ele levando uma bolsa de mulher nas mãos.Olhou para trás e viu Lidia chorando na porta da sapataria e sendo amparada por funcionários da loja.Revoltado,levantou-se e partiu atrás do assaltante.Deu um volta inteira no quarteirão sem achar nenhum sinal do trombadinha.Exausto e suado,desistiu.Resolveu voltar à sapataria e tentar falar com Lidia.Ao passar por uma rua mais deserta reconheceu,em cima de um grande saco de lixo negro,a bolsa bege da colega.Com certeza,pensou,o marginal quis livrar-se de qualquer prova que o ligasse ao roubo.Pegou a indumentária de couro bege e constatou que,aparentemente,todos os documentos estavam lá.O dinheiro,lógico,havia sumido,junto com qualquer cartão ou talão de cheque que por ventura ela estivesse portando no momento.Ao chegar na sapataria foi informado que a moça havia ficado muito nervosa e tinha ido para casa.Perseverante,descobriu o endereço dela numa conta de telefone que estava dentro da bolsa,e foi até a casa do seu amor platônico de juventude.Ficava perto dali.Ao tocar a campainha do apartamento estava nervoso.A mãe de Lidia abriu a porta com o semblante preocupado,demonstrando que já sabia do ocorrido com a filha.Ao explicar quem era e o que estava trazendo,Weber foi convidado a entrar e festejado por todos na casa.Lidia,então,saiu do seu quarto e apareceu na sala com os olhos vermelhos de quem havia chorado muito.Disse que não estava com nenhum cheque ou cartão na hora do assalto,que o ladrão não pegara a bolsa plástica em que estavam as roupas que havia comprado,que tudo foi muito rápido,e o que dava mais raiva era o susto pelo qual passara.Agora que não precisaria mais tirar todos os documentos de novo estava satisfeita.Hipnotizado pelo olhar doce de Lidia,Weber quase esqueceu que tinha que voltar ao trabalho.Quando lembrou do seu ganha pão,deu um pulo da cadeira e disse que precisava ir.Lidia pediu que ele esperasse um pouco;foi até seu quarto e voltou com o cadarço que havia comprado para o pai.Sorrindo,o deu à weber.Ele tentou recusar,mas todos,inclusive o pai,fizeram questão que ele aceitasse.Sem alternativa,pegou os cordões das mãos delicadas da moça,despediu-se de todos e,exausto,voltou ao seu trabalho.

No sábado seguinte,Weber foi acordado com um telefonema de Lidia.Ela queria convidá-lo para ir ver uma peça de teatro.Surpreso,ele ficou sem saber o quê responder,mas a veemência do convite impediu qualquer possibilidade de recusa.Combinaram que Weber a pegaria em casa.

No trajeto até o local da peça,dentro do carro,a conversa fluiu animada."Lidia conservou o bom humor dos tempos de ginásio",pensou weber.

O espetáculo agradou a todos.Como as poltronas eram estreitas,as mãos dos dois tocavam-se a toda hora,deixando Weber sem graça.

Após o espetáculo,decidiram jantar num restaurante italiano que ficava ali perto.Enquanto esperavam a comida,conversavam:

__O cadarço ficou bom?__Lidia bebia uma taça de vinho tinto enquanto falava.

__Perfeito!No tamanho e na cor.__weber procurava disfarçar seu embaraço ajeitando a manga da jaqueta jeans que usava

__E o dono do cadarço.

__O que tem ele?

__Não está com nenhum hematoma das quedas antigas?

__Todos já sumiram.

Os garçom chega com os pratos,interrompendo o diálogo.Por alguns minutos o casal saboreia a comida silenciosamente.Lidia é a primeira a voltar a falar:

__Weber..

__Hum?__murmura Weber,enquanto acaba de mastigar o canelone.

__Você está mais comunicativo do que no tempo de escola.

__Obrigado.A análise tinha que servir para alguma coisa.

__Você fez análise?

__Três anos.

__Eu já pensei em fazer também

__E por que não fez?

__Na época,meu pai achou caro o preço das sessões.Além disso,ele não acredita no processo.

__Se você quiser,eu posso explicar para ele como funciona.

__Não;agora não precisa mais.Já resolvi meus problemas

__Ah,que bom.Mas eu pensei que você tinha casado.Você estava noiva,não é?

__Quem te disse?__Lidia pareceu contrariada.

__Foi o Anderson;lembra dele?Cabelo ruivo,dentes salientes..

__Lembro,claro.Uma figura!Você tem contato com ele?

__Não.É que uma vez eu o encontrei numa boate,e ele me contou algumas coisas,entre as quais,seu noivado.

__Pois é.Três anos de namoro,um de noivado;e eu descubro que meu noivo era um dos maiores pilantras da praça.Tinha,inclusive,passagens pela polícia;todas pelo mesmo delito:Estelionato.Assim que conquistava a confiança da família,roubava o quê podia.

__E ele chegou a conquistar a da sua?

__Quase.Mas um telefonema anônimo nos alertou para o perigo.Fomos checar a informação e descobrimos a folha corrida dele.

__E o que vocês fizeram?

__Eu terminei o noivado na mesma hora,e por mim acabava aí,mas meu pai o denunciou à polícia.Tivemos até que testemunhar.Ele acabou preso e julgado.Pegou quatro anos pelos golpes que já havia praticado.Descobrimos depois que ele planejava roubar as jóias da minha família.Uma vez;eu,ingênua,contei para ele que elas ficavam guardadas na casa de minha avó.

__Pensava grande ele,heim?

__Nem me fale!Mas agora isso é passado...

__É isso aí!

Os dois brindaram a novos tempos e terminaram o jantar.

Ao deixar Lidia em casa, beijaram-se rosto,encostando levemente o canto de seus lábios.Ficaram de sair no dia seguinte.

Ao afastar-se com o carro,Weber olhou o retrovisor e viu Lidia sendo dominada por um estranho,que colocou um capuz na cabeça da jovem e depois a jogou no banco de trás de um vectra,que saiu cantando pneus.Imediatamente fez a manobra e passou a perseguir o veículo do raptor.Seu carro era um ford Ka,modelo 2005,mas o trânsito intenso não deixava que o vectra se distanciasse muito.

Dentro do vectra,Lidia descobria a identidade de seu algoz.O bandido que estava ao seu lado no banco de trás retirou o capuz que vendava seus olhos.Surpresa,viu seu ex-noivo sentado na frente,no banco do carona,enquanto outro homem,um negro com o cabelo pintado de louro,guiava o veículo.Com um sorriso indefinido no rosto,misto de triunfo e ódio,o mau caráter deu as boas vindas:

__E aí vaca?Como é que vai aquela sua família escrota?

__Desde que você foi preso,ótima,seu pilantra!

O estelionatário fez um sinal,e o capanga que estava ao lado de Lidia apertou o pescoço da jovem,que ficou assustada ao sentir o ar faltar por alguns segundos.

__Isso é para você saber quem está no comando aqui!

__Voce continua o mesmo.Sempre querendo controlar tudo.

__Correto!E vou controlar também o seu sequestro.

__Sequestro?Você está maluco Nilson?Sequetro não é estelionato!Você vai ficar muito mais tempo preso!

__E quem disse que eu vou ser preso?Além do mais,depois do que eu passei na prisão,lugar para onde seu pai me mandou,eu encaro tudo.

Nilson acendeu um cigarro,tragou,e soltou a fumaça,que espalhou-se pelo interior do veículo como uma névoa maligna...

Dentro de seu ford Ka,weber tentava falar com a polícia pelo celular;entretanto,seu aparelho estava com defeito e só recebia ligações.Restou a ele continuar seguindo de longe o vectra,esperando que cruzasse com uma patrulhinha no caminho,coisa que até aquela altura não havia acontecido.Estava tão tenso que demorou a perceber o toque do seu celular.Pegou o aparelho e atendeu.Era seu primo Estevan,querendo saber se ele estava a fim de tomar umas biritas numa boate ali perto.Nervoso,weber explicou a situação ao primo e pediu que ele ligasse para a polícia,pedindo ajuda.A ligação caiu pouco depois do pedido ser feito.A bateria terminou.

Weber estava só...

Lidia foi levada para um barraco no interior de Duque de Caxias,Baixada Fluminense.Apenas um sofá imundo mobiliava o único cômodo.Foi acorrentada à uma armação de ferro que fora previamente chumbada na parede.Seria impossível fugir,pensou ela.Seu ex-noivo e os capangas a deixaram sozinha e foram tratar dos "negócios"...

A alguns metros do casebre,Weber estava parado com seu carro,esperando que alguma idéia lhe ocorrese.Se saísse dali para buscar ajuda,certamente esqueceria o lugar,pois estava de noite,não havia qualquer placa indicando o nome da rua,e ele nunca passara por ali anteriormente.Era possível que nem conseguisse achar novamente a Avenida Brasil sozinho.

Ao ver os três raptores saindo do casebre e entrando no vectra,Weber decidiu arriscar.Esperou o veículo dobrar a esquina e saiu do carro.Levou consigo,por dentro da jaqueta jeans, a tranca de direção do veículo.

A rua estava deserta,apenas alguns cães disputavam um pedaço de osso encontrado num lixo próximo dali.Weber girou a maçaneta do barraco.Para espanto seu,a porta abriu-se imediatamente.A confiança na discrição do esconderijo era tanta que eles nem trancaram sua vítima direito,pensou.

Ao entrar,os olhos de Weber encontraram logo os de Lidia,que estava imóvel,encostada na parede.Os dois abraçaram-se demoradamente.Depois começaram a pensar num jeito de arrebentar a grossa corrente.Usando a tranca de direção,Weber fez uma alavanca,forçando o cadeado o mais que pôde.De nada adiantou.Quando ia fazer mais uma tentativa,a porta do casebre abriu-se e os três marginais entraram.Sorrindo ante a expressão de pânico do casal,o líder falou para os outros:

__Olha aí!Eu não disse que a gente não ia precisar correr atrás dele?

__Tem razão chefe.Galinha de casa não se corre atrás.__Disse o negro de cabelos louros.

Weber sacou logo o que acontecera.Desde o início eles sabiam que estavam sendo seguidos.Preferiram deixar para pegá-lo quando estivessem no território deles.E a arapuca funcionou direitinho.Resistir naquele momento seria inútil.Em sinal de rendição,weber jogou a tranca em cima do sofá.Nilson falou:

__Até que o seu namorado não é de todo burro,Lidia.Acorrentem ele também!__Ordenou aos capangas,que cumpriram a ordem rapidamente.Vendo os dois presos,Nilson caçoou:

__ Agora nós vamos contactar sua família Lidia.Eu nem vou ter o trabalho de avisar os parentes desse pé rapado.Ele vai de contra-peso mesmo.Vamos!__chamou os dois comparsas,que saíram com ele, deixando os dois sozinhos.

No escuro,Weber perguntou à Lidia:

__Eles te fizeram mal?

__Não.

__Você está bem?

__É lógico que Não!

weber não pode deixar de recriminar-se pela sua estupidez:"Perguntar se ela estava bem?Francamente!"pensou consigo mesmo.Tentou redimir-se:

__Desculpe por te fazer uma pergunta tão idiota Lidia.

__ Quem deve pedir desculpas sou eu!Você é um amor Weber.É que eu estou nervosa demais.Se a gente sair dessa,eu quero te conhecer melhor.

__Sabe;eu sempre quis ouvir isso de você.

__Sempre quis?Mas você só andava sozinho no ginásio;ou então discutindo sobre futebol com outros garotos.

__É;eu tinha meus problemas.

__Não vejo problema nenhum em você agora

Weber encarou Lidia por alguns instantes.Os cabelos castanhos haviam ficado mais bonitos com o tempo,e o nariz ainda era arrebitado,dando uma aparência jovial e rebelde ao rosto dela.Acariciou a face direita da jovem e disse:

__Eu era gamado em você no ginásio,sabia?

__Só no ginásio?__colocou a mão em cima da mão dele.

__Não.Até hoje.

Temendo que ela virasse o rosto,weber lentamente aproximou seus lábios até tocar os de Lidia.Ficaram ali,beijando-se;acorrentados à parede.Subitamente,a luzes se acenderam e Nilson e os capangas entraram.Rindo,o líder falou:

__Eu sabia que ia rolar um "amasso" quando saíssemos.Mas que bonitinho!O heroizinho protegendo a mocinha indefesa.

__Seu doente!__gritou lidia.

__Cala essa boca!__Nilson fez um sinal para o outro capanga,que tinha cara de alemão,e ele empurrou Lidia,que caiu no sofá.Ao tentar defender a namorada,weber levou um chute na barriga e desabou no chão.Neste momento,alguém bate na porta.Nilson vai atender e diz:

__Deve ser o "formigão",que vai pegar o resgate para a gente quando chegar a hora.

Ao abrir a porta,Nilson levou um potente chute que o jogou quase na parede oposta,caindo desacordado.Para surpresa de Weber,seu primo Estevan entrou no barraco seguido de quatro rapazes.Em poucos minutos,imobilizaram os dois capangas,aplicando-lhes golpes de caratê.O negro teve o braço esquerdo quebrado,e o alemão perdeu os dentes da frente.Os salvadores foram tão rápidos que não deram tempo sequer para os bandidos sacarem suas armas.Estevan encontrou as chaves das correntes no bolso de Nilson e as abriu.Sem entender nada,Weber perguntou:

__Mas como vocês nos acharam?Eu não cheguei a dizer aonde estava indo!

__Quando eu liguei para você,estava te vendo do meu carro,na pista ao lado.Você devia estar tão nervoso que nem reparou nisso.Decidimos ir atrás para ajudar.O Claudio conhece tudo na baixada;foi criado aqui__bateu no ombro de um dos colegas.

__E por que não me falaram antes?

__Seu celular não respondia,e achamos melhor esperar que eles dessem algum mole.Pensamos até que você iria resolver tudo sozinho ao conseguir entrar aqui,mas quando os três vieram novamente depois de você e saíram sozinhos,calculamos que tinham te prendido também.Então ligamos para a polícia e saímos do carro,que estava mais acima na rua,e ficamos observando mais de perto,na esquina,fingindo estar procurando o endereço de um baloeiro enquanto esperávamos os policiais chegarem.Quando vimos pela janela do barraco o capanga empurrar Lidia e bater em você,pensamos que eles iriam matá-los,e decidimos botar para quebrar em cima desses safados.

__Ainda bem que vocês chegaram na hora certa!__Disse Lidia,enquanto abraçava Weber.

Sirenes de polícia ecoaram ao longe,e todos prepararam-se para deixar aquele pesadelo......

UM ANO DEPOIS..

A igreja estava toda enfeitada.No altar,Weber ajeitava,nervoso,a gravata.Seu primo Estevan,que ocupava o lugar de padrinho,falou baixo para ele:

__Tu vai desmaiar cara!cuidado!

__Você é bom para acalmar os outros,sabia?__Reclamou o noivo.

A marcha nupcial tocou,e Lidia entrou na igreja levada por seu pai.A cauda do vestido arrastava de uma maneira graciosa pelo chão coberto de pétalas de rosas.Ao cruzar o olhar com sua futura esposa,Weber lembrou de sua avó Antonia.Se não fosse pelo fato dela ter lhe dado um sapato com os cadarços lisos demais,talvez nunca tivesse reencontrado Lidia.Lembrou também que o nome da avó fora escolhido para homenagear Santo Antonio,o santo casamenteiro.

Tinha sido uma boa escolha....