Mulher misteriosa

Morava há mais de dez anos naquela rua,e nunca conversou ou mesmo dirigiu um olhar para qualquer morador.Sempre sozinha caminhava na direção da praia todas as manhãs,e ali praticava um estranho ritual:ajoelhava-se na beira do mar, e olhava por mais de meia hora na

direção do horizonte,como a rogar,ou quem sabe agradecer alguma benção alcançada.Alguma correspondência da sua casa foi interceptada há algum tempo por um vizinho curioso,que conseguiu ler o seu nome Sabrine Radier.Se era o verdadeiro,ou mesmo uma fachada,nunca se

investigou.A própria apatia da mulher diante das pessoas que a rodeavam acabou por fazer dela

uma figura meio sem expressão,uma carta fora do baralho.Quantos anos teria?Aparentemente

uns trinta?Gostava da solidão,ou a usava simplesmente como uma fuga?Ninguém saberia dizer.

Até as crianças que tentavam se aproximar não conseguiam amolecer o seu coração,as ignororava como o fazia com todos.Sabrine,se este fosse o seu nome,deveria ter muitas razões para agir assim,quem poderia adivinhá-las?

O vento forte anunciou naquela manhã um início de inverno bem impiedoso.Nas ruas só andavam alguns pedintes e vendedores ambulantes sem freguesias.A praia completamente deserta,somente um cão corria solitariamente à beira-mar.Ela apareceu dessa vez de uma forma bem inusitada,comentaram uns curiosos que das frestas das janelas a vigiavam .Carregava um

buquê de orquídeas nas mãos.Quando,apesar do forte vento ela cumpriu o seu ritual na areia da

praia,atirou as flores ao mar e voltou para casa sorrindo.Um sorriso iluminado e repleto de liberdade.

Otília Noronha
Enviado por Otília Noronha em 05/07/2008
Reeditado em 05/07/2008
Código do texto: T1066311