Amor oriental

Tantas noites mal dormidas.Esperando o sol despontar para tentar se

distrair,

quem sabe o tempo passasse mais depressa.Ana Letícia estava aprimorando a

cada dia a sua capacidade de ser paciente.Desenvolvendo uma paciência que

ela

mesma batizou de oriental.

Seu marido há três anos foi para o Japão trabalhar numa empresa,mas ela não

pôde acompanhá-lo.Primeiro porque estava cuidando de seus pais ,que são bem

idosos,e segundo porque estava recém-formada e participando de um processo

seletivo que resultou num excelente emprego como consultora de modas.

Cartas,cartões,telefonemas,nada mais apagava a dor da saudade.Camuflada com

várias visitas ao marido.Ele mesmo,não podia nunca se afastar do emprego,o

mercado

competitivo não lhe permitia esse luxo.

Ela precisava esperar por uma oportunidade melhor.O seu marido já pensou

várias

vezes em desistir,mas ela sentindo-se culpada não permitiu.Será que o

desenvolvimento

profissional consegue ser mais importante que o afetivo?Ana Letícia se

interrogava e se encontrava cada vez mais sem respostas.

Seus amigos lhe procuravam nos fins de semana para que ela se distraísse.Mas

a tristeza afastava-lhe da convivência.O medo do amanhã lhe

assustava.Profissionalmente tudo corria maravilhosamente bem,mas o

sentimento de abandono chegava sempre às sextas-feiras à noite e ficava

durante todo o fim de semana.E este fim de semana era bem mais

intenso,porque seu pai havia falecido há um mês e sua mãe estava

hospitalizada.Teve que conviver cruamente com a sua solidão.

Acendeu um incenso,velas coloridas no cadelabro.Na mesa colocou sua louça

oriental e fez um chá aromatizado com biscoitos enviados pelo correio pelo

seu marido.Chegou a sentir o gosto do seu beijo no calor da xícara.Fechando

os olhos o imaginou ali na sua frente.E com uma lágrima suave nos olhos

lembrou-se do momento em que se conheceram e do assunto da conversa dos

dois.Falavam sobre liberdade.Diziam que nunca se prenderiam por nenhuma

situação nem por ninguém ,se o amor estivesse em jogo.

O telefone tocou avisando sobre a morte de sua mãe.Era um sinal de que ela

deveria abandonar tudo e reencontrar o seu amor no Japão.Chorou a noite

inteira.

Na semana seguinte quando já se encaminhava para o aeroporto para finalmente

fazer o seu vôo rumo ao amor.Seu celular tocou e ela ouviu a voz do

presidente da empresa em que pediu demissão lhe oferecendo o dobro do

salário.Com a condição de que gerenciasse a nova filial,que seria aberta no

Japão.

Ana Letícia mal coube em si de tanta felicidade.Sentindo no fundo da alma os

benefícios de sua aprimorada paciência oriental.

Otília Noronha
Enviado por Otília Noronha em 02/07/2008
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