UM POUCO DE MALANDRAGEM
Aqui faz frio, aliaz muito frio. Quero um casaco. Lá era sempre muito quente. Só de ve-lo já suava. Mas agora é frio. Eu já saí pra comprar roupa, é claro! Mas casaco! É a primeira vez. Que “saco”! Quanta prateleira. Eu não sei comprar casaco. Ela sempre cuidou disso. Que época mais infeliz pra descobrir isso. A variedade é muita, essa loja é apertada, quente e cheia de gente. Não estou suportando essa droga, tá me pirando essa “zorra” toda, “pirei”, “estres total”, não sei pra que tanto casaco com formas e cores diferentres, já que o frio é um só. Olha só, tem até um monte pendurado nas paredes. Que loucura! “Tô fora”, “fui!”... Agora estou livre daquela muvuca toda. Que neura! Tá frio aqui, mas tô livre. E tem alguém falando:
— Chuva!!!
Ainda bem que não saí pra comprar capa, detesto guarda-chuva, dessa culpa me livrei. Lá, chovia e muito, tô acostumado. “Rolava” umas marquizes que sempre estavam a mão para proteger-me. Agora esse frio irritante e já tem outro com guarda-chuva falando:
— Vai piorar!!!
Imenso. Mais parece um guarda-sol. “Cara” estranho. Que tipo de gente pode andar com esse troço inutil, que só impede que a mão que o segura se molhe, porque a outra, coitada, se não encomtrar o bolso, vai se molhando e no frio abrindo um monte de coisas molhadas e meladas, com todo tipo de porcaria que tiver na frente e dando tchauzinho, ou apertando outras molhadas, geladas e humilhadas que encontrarem por aí. Só espero que ele não espirre.
É sórdido demais. Cadê as marquizes? Antes que eu dê um “basta” nisso tudo, “vou dar o fora”. Ali tem três, vai dar! É agora, antes que piore, “fui”!… Mas o que esta acontecendo aqui. Que droga é essa! Uma gritaria infernal. Justo na primeira! É um templo, de oração? Tem até uma placa, vai ver estão querendo chegar ao universo aos berros... Vou pra outra, “fui”!.. “Caramba”! É uma igreja, mas fechada! É melhor me apressar essa chuva está ameaçando a piorar, pra próxima, “fui”!… O que é isso? Música e fumaça de charuto, todo mundo de branco. Não posso com fumo. Estou vendo uma árvore que vai dar, “fui”!… Nossa como ela é grande! Meu tenis e a barra da calça já molharam, e agora esse vento e mais água. Eu devia ter pego qualquer casaco. “Que vacilo”!
“Ora-ora” o que temos aqui? Uma linda mariposa protegida nas cascas desse tronco. Que bom! E a chuva piorando. Porque eu não sou desse tamanho? Ela esta tão confortavél. É linda! E como se parece com esse tronco. Sinto-me emocionado feito uma criança… Eu preciso de… Meu Deus me ajuda! Estou com frio, cansado, molhado, pirado, cheio de saudades e só! E não sei comprar casaco! Me ajude por favor!
“Caramba”! A chuva virou tempestade. Que raio maravilhoso! Está tão perto que me dá vontade de toca-lo. Que lindo! Fantástico! Que estrondo gigantesco desse trovão, “que barato”. Nem as folhas seguram mais essas imensas gotas que batem em minha pele, como se eu estivesse embaixo de uma cachoeira brincando. Que loucura é essa! O que esta acontecendo? Não tenho mais pressa. Sensação de paz, liberdade. Que bom! Quem sabe a vida é não sonhar. Quero abrir os braços. Ficar de peito aberto e viver a realidade pra dançar. Amar, amar, amar e cantar. Como é mesmo aquela musica? Lembrei!... Eu só peço a Deus/ um pouco de malandragem/ pois sou criança e não conheço a verdade/ eu sou poeta e não aprendi a amar…
DiMiTRi
22/06/08 02:06