Capítulo 8 - Val explica tudo sobre lobisomens -

Naquela semana fizemos compra e não faltou vela nos ítens, eu comprei um maço e minha tia dois. Ela estava realmente levando a sério a idéia de acender velas para os chifrudos da cidade que encontrasse pela rua. E novamente o Val veio dormir em casa e pedimos pra ele relatar sobre o lobisomem:

_Existem dois tipos: o morto e o vivo. Somente o vivo tem medo de fogo. O morto não.

_Por que? Já vai começar a dificultar a história - começou Marina.

_Porque o morto já está morto. Simples. - cortou ele - e do morto tudo que se tem a fazer é correr.

_Eu corro dos dois, nunca quero ver nenhum. - confessou minha tia.

_O vivo tem medo do fogo. Para espantá-lo, basta ter um isqueiro ou botar fogo em algo. Muitos não sabem, mas a maldição cai sobre o filho que é gerado na sexta - feira santa quando essa cai em noite de lua cheia. Por ser um dia sagrado, coisas muito estranhas acontecem nesse dia.

_E não diziam que era o décimo terceiro filho que virava?

_Isso era para enganar os trouxas e idiotas. - respondeu Val.

_Eu acreditava nessa, grosso. - reclamei.

_Mas voltando ao assunto. O lobisomem durante os sete dias da lua cheia é condenado a perambular por sete cidades.

_Como? Ele tem que ficar andando pra cima e pra baixo? E onde ele se esconde? - já questionou Marina.

_Não sabia que eles comem bosta de galinha? Eles andam pelas estradas, sempre pelas saídas da cidade, onde há sítios, chácaras e lugares onde se criam galinha.

_Coitadinhos, além de ter que andar a pé, comem bosta de galinha. - disse minha tia entristecida.

_E a maneira de descobrir quem é um, é a velha história de dizer "Vem amanhã que te dou um pouquinho de sal" aí no outro dia falta sal na casa dele e ele vem buscar.

_Numa dessas ele pode montar uma cesta básica, basta ele pedir em cada casa. Um dia alguém dá sal, outro dia dá óleo, outro feijão, arroz... aí no outro dia ele passa pegando. - concluiu minha tia.

_Mas Val, tudo certo, eu entendi tudo. Só que há uma divergência nos fatos. Analise comigo. - comecei - se cada criatura perambula por sete cidades nos sete dias de lua cheia, considerando cinco cidades próximas e dois lobisomens por cidade, teremos vinte e cinco lobisomens numa única cidade perambulando. Você não acha que é muito lobisomem pra uma cidade só?

_Te respondo. Hoje em dia é muito difícil, mas eu já tive a experiência e na prática tudo é bem mais complicado. Um amigo meu num sítio foi pedir sal uma vez. Além disso, como eu já falei, eles não gostam da área urbana, mas não é impossível aparecer algum uma vez ou outra. Já estranharam os cachorros latindo para o nada em noite de lua cheia?, pois os cães e cavalos são os primeiros a sentir a presença dessas criaturas e são também as únicas corajosas o suficiente para enfrentá-los.

_Ainda está estranho, sete cidades... E cada noite ele vai estar em uma cidade diferente. Val, se arrumássemos uma van, facilitaríamos o trabalho deles. Seria uma van com pelo menos quatorze lugares, e já deixaríamos quatorze peludos felizes. - disse eu.

_Verdade. O Val poderia ser o motorista, e combinaríamos um ponto para pegá-los. Tipo uma pracinha, e por favor, marmitex. Chega de bosta de galinha, poderíamos ganhar uma boa grana, olha o "gorpe" aí - respondeu Marina animada.

_Não eu não poderia, estou com a minha habilitação vencida. - respondeu o Val.

_Gente que não sabe ganhar dinheiro é assim... E agora chega de falar nesse bicho, senão não vou conseguir dormir.

_Eu ainda insisto na van. - tentou minha tia.

_Eu insisto em dormir. Boa noite. - e fui dormir mesmo.