Capítulo 7 - Val explica a lenda da mula-sem-cabeça -

A partir de agora devido aos detalhes, vou mudar a maneira de escrever. Continuarei sendo o narrador, mas vou inserir as falas dos outros personagens para que vocês entendam melhor o que é viver ao lado do Val e da minha tia.

Geralmente quando acabava nosso horário de trabalho no bar do Serginho, ele nos trazia e para minha ira, Val dormia às vezes em casa. Eu vivia brigando com a minha tia mas não adiantava. Numa madrugada de domingo ele nos contou sobre a lenda da mula-sem-cabeça:

_Vocês sabiam como surge a mula-sem-cabeça? A mulher sai com o compadre e o homem com a comadre. Aí os dois viram o bicho.

_Val, e há alguma maneira de desfazer o feitiço? - perguntei.

_E ainda existe? - perguntou minha tia.

_Há uma maneira de desfazer sim. E hoje não existe por causa do mundo globalizado. Só lobisomem. Mas essa é uma história que eu conto depois. Voltando ao assunto, como desfazer a maldição da mula. O marido estava desconfiado que sua mulher virava. - minha tia já começou a rir e ele a repreendeu - naquela época a igreja era muito respeitada e as pessoas se confessavam sempre. Esse marido desconfiado foi falar com o padre:

_"Seu padre, eu acho que minha mulher vira mula-sem-cabeça, ela anda estranha, não me procura mais a noite. Parece que ela me joga um feitiço e eu durmo. De repente eu acordo com barulhos estranhos e ela não está mais em casa. Escuto relinchados ao longe, e é sempre depois da meia noite."

_O Padre então explicou como quebrar o feitiço: "Você precisa descobrir onde ela pôe a cabeça. Pois a pessoa que vira essa criatura precisa guardar a cabeça antes de virar, e veja também se há uma vela por perto. Pois ela só voltará a ser humana depois que por a cabeça novamente no lugar" e continuou a explicar. Então o homem se preparou naquela noite, ao relógio bater meia-noite, ele fingiu que estava dormindo, a mulher se levantou acendeu a vela, arrancou a cabeça, colocou embaixo da cama e saiu.

_Ela foi buscar laranja. - concluiu minha tia.

_Ela então virou mula e foi se encontrar com o amante que também virou.

_Que lindo, duas mulas com a cabeça pegando fogo namorando... e não se queimavam? questionou ela.

_Não eles ficam brigando, dando coices pra tudo quanto é lado, é a cina. - explicou Val - voltando ao assunto; então o marido se levantou, acordou o filhinho pequeno, apagou a vela que ela acendeu, e pegou a cabeça de sua amada e colocou do lado da vela...

_Coitada, além de virar mula, agora ia ficar careca, porque se ele colocou a cabeça do lado da vela acesa poderia pegar fogo? -disse Marina.

_Fica quieta, deixa eu terminar...

_...Fechou todas as portas e janelas, acendeu uma nova vela como o padre ensinou e pediu ajuda ao filho para rezar. A mulher chegou, viu que estava tudo trancado, começou a relinchar e a bater na porta e eles lá dentro rezando. Foi então que depois de um longo tempo tudo se acalmou. Eles foram lá fora e havia uma mula morta e sem cabeça. O marido então fechou os olhos da mulher e por causa da maldição, só podia enterrar a cabeça da coitada.

_Credo Val, que coisa mais triste, mas cá entre nós ele foi contar para o padre que ela virava mula sem cabeça pra não falar que era chifrudo. - concluiu minha tia mais uma vez.

_Claro, se ela virava mula, é porque já o traía há muito tempo. - respondeu Val.

_Tia, daqui pra frente quando aparecer alguém que sabemos que é chifrudo a gente diz "vamos acender a vela" - disse eu.

_Verdade, vou ter que andar com um maço de velas na bolsa, porque nessa cidade o que não falta é mula.

_Agora conte sobre o lobisomem Val. - tentei.

_Não já é tarde, ficará pra outro dia...