Capítulo 6 - Aprontando a beça "O bar do Serginho" -
Nesse bar acontecia de tudo. Tudo mesmo. A terceira idade invadia a todo vapor e não pensem que eram mortos não. Mais vivos do que eu até. Arrumavam fôlego pra dançar, paquerar e até brigar por seus ideais. Minha tia atendia no balcão e fiquei responsável pelos salgados e porções que o local oferecia. Vendíamos rifas de porção de frango a passarinho e de vez em quando dava pra ver qual o nome sairia e já marcávamos o nome adiantado. Eu cansei de comer frango a passarinho.
Lá os violeiros tinham seu espaço e após esse horário tocava-se forró. Acontece que o dono do bar, o Serginho não sabia lidar com a freguesia e foi só eu minha tia assumirmos a frente que o movimento do bar melhorou... E junto com isso ficamos populares no bairro. O dono do bar precisou tirar férias porque foi ameaçado de morte, e não era para menos se eu pegasse minha esposa com ele também iria querer matá-lo.
Lá conhecemos Alzira, uma senhora alcoólatra que ainda por cima vivia apanhando de sua filha. Nos conhecemos de uma maneira muito engraçada. E ela era bem danada. Naquele dia ela carregava um caderninho onde gostava que as pessoas deixassem uma dedicatória pra ela, pois quando ela fosse internada num sanatório, já teria um passatempo: ler. Era muito audaciosa e ela nem imaginava que eu já sabia um grande segredo dela. Ao sair com um senhor para matar seus desejos, ela cobrou, porém ele não tinha dinheiro, apenas quatro mixiricas. Ela levou as frutas embora. Esperta ela, nao? Então eu deixei uma dedicatória a ela. E mais tarde quando ela foi tentar ler eu percebi uma certa dificuldade: "Não está conseguindo ler?" e ela "Eu só vou ler amanhã" e insisti "Ah, você não consegue ler a noite, então?" e me respondeu calmamente "não, é que esqueci os óculos". Essa doeu. Mais tarde caí na tentação novamente, ao perceber que ela havia sujado os dentes com batom eu avisei e ela foi limpar, então eu olhei dentro da boca dela e rapidamente perguntei: "É impressão minha ou a senhora não tem os dentes de baixo?" e ela "Cala a boca, fica quieto, eu tenho dentes em baixo sim, só que são pequenos" Então está bem. Eu ia discutir pra que?
Lá no bar também frequentava o Carijó, de meia idade, que quando ia dançar saía pulando feito galo, aliás o apelido era devido a voz dele. Parecia um galo, ardido do tipo que penetra nos ouvidos.
Conheci também Luciana, uma garota de vinte e nove anos, separada do marido, dois filhos, muitos problemas alcoólicos. Quase eu não falo de álcool por aqui.... Essa deu trabalho. Sua frase preferida é "Eu posso" e dizia isso toda vez que aprontava alguma coisa. Tentou roubar o Val de minha tia, mas não obteve sucesso. Ele preferia ver o diabo a ela. Eu também preferia. Qualquer um creio eu.
Havia também o Aranha, o Ninja, O Mixirica, O Meio-quilo, o Pelota, a Surda (mas minha tia me revelou que na realidade ela não era surda, apenas escolhia aquilo que queria ouvir).