Capítulo 3 - O "cancelone" -

Quem não gosta de comer um bom prato? Sempre me orgulhei das receitas que aprendi e claro, minha tia nunca gostou de comer porcaria. E detalhe: queria comer do bom e do melhor mas não tinha grana pra comprar nem uma cesta básica. O que fazer? Dávamos pequenos "gorpes" na vizinhança e em nossos amigos para conseguir dinheiro ou os ingredientes. Aprendi a fazer uma versão mais barata do canelone. Usando massa de pastel daquelas que se compra em feiras ou supermercados e que vem enrolada. Você tem várias opções de recheio, no nosso caso, o de presunto e mozzarela resolvia o problema. Após montar tudo na forma coloquei para assar e minha tia preparou a mesa. Arranjou uma vela, uma toalha furada, colocou os pratos e até havia uma visita de um amigo nosso, o Cláudio. Ele também adorava comer tudo o que eu fazia. Só que aquele dia o fogão não colaborou. Se o tempo para assar não ultrapassava os quarenta minutos, aquele dia assou por uma hora e meia. Quando ficou pronto, nós ja tínhamos bebido o suco, minha tia desistiu e guardou os pratos e jogou a vela longe.

Chegou a hora de comer, o Cláudio foi o primeiro a provar e ao tentar elogiar disse: "Bernardo seu "cancelone" está divino". Caímos na risada. Cancelone? a junção da frase "cancelar o canelone" Porque demorou tanto que queriam cancelar o almoço e o cozinheiro juntos. Eu acusei o fogão, lógico.

Naqueles dias após o incidente do canelone, recebemos a visita de uma colega nossa, a Rose, ex - lésbica. Estava feliz por ter encontrado um homem que a fizera mudar de opção sexual, seu apelido era Pinguim, eu não sabia o nome dele. E era alcoólatra. Ela vivia nos bares pra buscá-lo quando não estava caído pelas ruas da cidade. E de vez em quando ele se juntava aos andarilhos da cidade e dormia debaixo da ponte. E ele adorava isso.

Eu e minha tia Marina nunca desprezamos a amizade de ninguém e adorávamos ouvir as histórias desse povo. Ela então nos relatou como foi sua mudança de lésbica para mulher. Ela teve a ajuda do sobrinho do Pinguim. E passou por todas as fases. Ela aprendeu a andar de salto, a ter trejeitos de mulher e a se comportar como mulher, mas de vez em quando adorava dar uma de machão e brigar um pouquinho nos bailes que frequentava, era repeendida pelo Pinguim que dizia "uma mulher não bate em três homens de uma vez, desse jeito você não vai virar mulher nunca" Mas a parte mais inacreditável da história foi quando ela relatou: "Eu era lésbica, e ao invés de virar mulher, virei gay, eu fui pra fase errada, repensei e disse: Rose volta uma fase, é pra virar mulher, lembra?" Minha tia e eu caímos na risada como sempre.