Ao som do atabaque

A música convoca emoções, resgata sensações em rítimos e cadências variadas.

Era balanço de origem africano, resgatado por atabaques e timbas que vibravam as paredes da sala enquanto inebriava meus olhos que viam espantados, chegar a corpos coloridos por trajes personificados, espíritos do bem e do mal.

A sala cheia e mal ventilada trazia estonteantes odores estranhos de velas e flores baratas. Mas a música me enaltecia, me fazia sentir que era um deles. Transportava-me para mundos misteriosos de onde talvez tivessem vindo todos os espíritos.

Senti meu corpo gingar de acordo com as batidas, e minha boca seca teimava em permanecer aberta. Curiosamente aberta. Meus olhos cintilavam emocionados enquanto o misterioso momento me introduzia no desconhecido mundo musical dos espíritos.

Parecia veterana no meu primeiro dia. Imaginei todo aquele cenário sem os instrumentos musicais, sem a música, e concluí que nós não estaríamos ali, e nem os espíritos. Era a música cadenciada que nos levava e nos mantinha naquele ambiente místico. Era a música que nos transportava de um mundo para outro, nos elevava, e nos fazia crer no que víamos. Era ela que nos fazia ter ilusões, imaginações sobre o espetáculo espiritual que assistíamos espantados. Notei naquele momento que apesar da fantasiosa e fantástica chegada dos espíritos, das cores espalhafatosas nas roupas enormes da Mãe-de-Santo, dos colares de contas coloridas; era a música que dava o rítimo e as ordens. Era sob o comando dela que os mundos se encontravam.