Capítulo 2 - O namorado de minha tia e as primeiras aventuras -
Val, trinta e oito anos, ex - radialista. A presença dele foi fundamental em minha nova fase, ele era preguiçoso, oportunista, super engraçado, esse sim era um palhaço ambulante, com seu jeito simples, porém misterioso. Posso dizer que eu o amava e o odiava ao mesmo tempo, afinal minha tia sustentava ele e isso me deixava furioso, porque se dali pra frente iríamos dividir as despesas, eu iria sustentá-lo também. Banana pra ele! Eu iria dar a volta por cima, mas quando? Val conhecia todo tipo de erva, já que vivia indo pescar (nunca trazia peixe) e nunca abandonava sua cachaça, vou ser mais sincero: dificilmente ele estava sóbrio. Quando trazia algo ou era raízes estranhas, ou era bucho de porco, ou joelho de vaca. Minha tia e eu detestávamos todos. Mas a "cambuquira" (talo da folha da abóbora) foi algo interessante, ele a usou numa sopa e não sei se era fome, mas ficou uma delícia e até hoje tenho saudade.
Nos próximos dias, a repercussão da saída da casa de meus pais causaram alvoroço na vizinhança, frases do tipo: "Não acredito que o Bernardo saiu de lá, só vendo pra acreditar" ou "Já que ele volta pra casa, não sabe viver sem os pais" tudo isso me deixava furioso. Pior de tudo, eu teria que engolir tudo aquilo até encontrar uma nova casa, e isso me fazia ter dor de cabeça diariamente.
Depois de alguns "arranca-rabos" com minha tia decidi ser mais paciente, ela adorava sair para dançar forró nos bares que haviam em nosso bairro, em especial num centro comunitário. Em todos esses lugares: bêbados, aposentados e mulheres atrevidas era o que não faltava e eu ia lá pra me divertir vendo eles aprontarem uns com os outros, bagunçarem, e eles faziam isso com toda a energia do mundo. Conheci uma senhora que aos setenta e três anos, mâe de dez filhos, ainda arrumava energia pra ir para o baile todos os sábados. Seu nome era Angelina, mais conhecida como "Grila" aliás o apelido fora herdado de seu falecido marido. Ao ser questionada sobre tanto fôlego pra dançar ela respondeu: "E criei todos os meus filhos sozinha, e não me arrependo. Agora preciso curtir o resto da vida que tenho direito".
Uma certa noite, eu estava ensaiando uma peça numa cidade vizinha. Ao chegar em casa percebi que a luz estava acesa, chamei, gritei, mas ela parecia que estava dormindo num sono pesado e como ela tinha mania de ir dormir tarde eu fiquei extressado e resolvi apedrejar a casa. Gritava: "Sua grossa, não vai abrir a casa?" E sentei na calçada, alguns vizinhos apareceram e eu perguntei se tinham visto os dois, mas todos diziam: "Ah, não vi sua tia hoje não, a luz está acesa, ela está aí sim" Eu agradecia, mas minha paciência chegara ao fim e eu apedrejei a casa enquanto dizia: "Acorda... Senão eu vou destruir o resto da casa que falta" Por minha sorte após jogar algumas pedras que danificaram a janela que já estava quebrada e a porta que já era enguiçada resolvi desistir e passear. Acabei dormindo numa colega e no outro dia minha tia ao acordar se espantou com a quantidade de pedras que haviam no quintal e dentro da casa, perguntou ao Val se havia tido guerra ou coisa parecida na noite anterior e aí sim fui descobrir que ela realmente não estava em casa, mas sim visitando uma colega pra usar o banheiro. Depois de resolvido a questão demos muitas risadas juntos e tudo se acertou.