Capítulo 1 - A nova casa -

Perdão, eu disse casa? Ora, se tratava de um cômodo mofado, pintado com cal numa cor verde azulada, sacou? Coloquei minhas bugigangas, quero dizer, roupas num canto. E depois descobri que não poderia deixar ali porque havia duas goteiras bem em cima, se tratava de uma cachoeira na realidade. A cama era de casal. Havia um sofá antigo e descascado, sem geladeira, uma pia mal colocada, uma fruteira cheia de sacos de papel, devia chamar armário porque não havia fruta alguma, uma mesinha de bar com as quatro cadeiras, e uma prateleira improvisada de madeira que ficava escondida atrás da porta. O banheiro? Bom havia sim, só que ele ficava três casas depois e era dividido entre três famílias. Entenderam agora porque eu sempre me arrependia ao tomar banho? Vou relatar já como eram os momentos pré, durante e pós banho. Pegava sabonete, creme dental, toalha e roupa limpa, me dirigia ao local, piso somente de cimento grosso, paredes imundas, luz fraca, privada quebrada e nojenta, o cheiro vocês ja imaginam não é mesmo? uma porta fina de madeira que não fechava direito e sempre corria risco de alguém ver ao vivo a cena de alguém tomando banho, inesquecível. A água morna, e a energia elétrica caía todo momento. O vento entrava por todas as fissuras que haviam no local, e havia estas por todos os lados, acima e abaixo, ao fim do banho, me secava, trocava e saía, dando a volta e carregando na mão a roupa suja com todo o resto já mencionado. Entrava morrendo de raiva e sempre era questionado por minha tia sobre tal situação, afinal era evidente. Ela evitava ao máximo usar aquele banheiro. Vivia emprestando o banheiro dos outros durante o dia e eu depois de uma certa época comecei a fazer o mesmo.

Um pequeno quintal abrigava uma carriola enferrujada, alguns vasos de plantas e um varal mal feito. O portão não oferecia segurança alguma, e a porta única da casa muito menos, pois era amarrada com corrente e cadeado. Me responda: qual ladrão iria ter vontade de querer assaltar essa casa? E eu insisto em chamar de casa, não acham?