Seis Meses e Dez Dias
O passarinho na janela anunciava outra manhã, o desânimo aumentava a cada dia, continuei deitado na cama, iluminado por um fleixe de luz batendo no rosto, trancado em quatro paredes, a mobília perdida na bagunça das roupas, sapatos, cds, um computador e papéis, muitos papéis rabiscados com possíveis poemas jogados ao chão.
Seis meses de isolamento, pura ângústia, respirando o cheiro de mofo que infectou meu corpo... Seis meses sem vêla, sem notícia, sem ouvir a voz doce sussurando... Sem vida.
Àtarde, o resgate de um amigo me tira do estado melancólico. Deprimente até no olhar, caminhamos pela praça, iludido via Geane em todas as moças que passavam. Persebia o semblante preocupado de meu colega ao pergunta se quem vinha era ela, abaixava a cabeça balançando negativamente.
Antes de regressar ao exílio, pararia num treiler. Já era cinco da tarde, após uma refeição partiria para casa quando um arrepio fez o coração acelerar, invadido por uma incontrolável vontade de olhar para o lado. Virei-me, e a certeza de que não era demagogia, Geane parada na minha frente, os olhos já não piscavam com medo de perder o instante. Numa fração de segundo a troca de olhares interrompido por uma mão que a puxará para o lado, tirando-a de mim, fazendo tudo escurecer... Para sempre...