Auto crítica
Numa crítica e demorada revista me vejo nú em frente ao espelho. Confesso que não me sinto à vontade na minha presença. Fico tentando justificar a avantajada barriga que se proliferou à minha frente dando a ela uma feição menor quando prendo a respiração com os músculos abdominais contraídos. Isso até me faz rir. Que ridículo ter que murchar a barriga quando não suporta a própria crítica. Como enganar a mim mesmo?
Tento prestar atenção nos olhos arregalados que vejo no espelho, e isso despista a atenção sobre a barriga. Mas a cor esverdeada que eles têm já não mais atrai ninguém aos 50 anos. Desanimo-me ao ver que até os olhos sofreram com o tempo. Atento para as rugas que se formaram ao redor deles. São minúsculas ainda, mas prometem formar vinco.
Minha boca não é mais a mesma. Fala muito pouco. Bem menos do que falava antes. Entre um suspiro e outro ofega à toa de cansaço. Fala menos, e come mais. Por isso minha barriga existe, por causa da minha boca de 50.