Pela ótica da meninha, segunda parte: as escolhas, a repressão e a dúvida
Férias de julho...Um clima gostoso de inverno mineiro,convidativo para longas refeições e caminhadas... Na mesa de café da manhã de um hotel serrano, uma alegre família faz sua primeira refeição. Pai, mãe, padrinhos e uma menininha com uma franjinha bem cortada.
Ela está muito feliz com uma bolsa em formato de coco. Come um pedacinho de pão e guarda outro na bolsa. Repete esse ato diversas vezes , até que o garçon se aproxima e exclama: "Ah! Te peguei! Pára de guardar pão na bolsa, senão vou te levar para o quarto escuro..."
Um clima de desaprovação pairou no ar... A madrinha, indignada, faz a seguinte observação:"- Por que motivo ser tão rude assim com uma criança ? Nós pagamos e bem a diária e ela só quer levar pão para os patinhos no parque."
O garçon retruca: "_Mas isso é errado, se eles comerem o pão ficarão com o papo inchado e morrerão asfixiados..."
"_ Não com esses pedaços tão pequenos" - argumenta a madrinha. e pare de assustar a criança com quarto escuro ou eu chamo o gerente!"
O garçon retira-se e a menininha fica confusa: "_Se eu der pão para os patinhos eles morrerão? Não quero matar os patinhos..." "_ Não vai acontecer nada, diz o padrinho. "Pode continuar a dar esse miolinho para os patinhos"
Saem em direção ao Parque das Àguas para seu passeio matinal. Em frente a uma lanchonete existe um lago com caiaques, pedalinhos, barcos a remo e alguns patos gransnando. A pequena petiz joga alguns miolos de pão para seus amiguinhos do lago, que vorazmente comem sua refeição, já inchada por ter caído na água. Dessa forma, comem apenas o que cabe em seu tubo digestivo, não lhes ocasionando nenhum dano.
Dano causou aquele garçon. A menininha não comentava mais o fato, mas sempre se perguntava: "- Será que matei algum pato com o pão?". A dúvida, mesmo pequena, inchava em seu pequeno cérebro e ela nunca teve a certeza da resposta. Teve de aprender a conviver com os pedaços de pão que lançava desconhecendo seu efeito nas diferentes situações de sua existência...