Coragem e Felicidade
-E então...?; me dizia ela com os olhos descrentes de minha resposta
positiva.
O silêncio persistiu por mais alguns minutos. A bela moça respeitara
minha indecisão. O fato é que nem eu mesmo sei o que faço aqui neste
repouso absoluto.
-Segurastes minha mão com tanta delicadeza... achas que isso pode me
ajudar a escolher?
Ela sorriu e me retribuiu com o mesmo vazio de palavras que a pouco
lhe passei.
-Tenho quase certeza que não sou quem você quer...
Eu lhe disse isso com uma vontade imensurável de chorar.
-Incrível... você parece saber mais que eu. Só parece...
-Respondeu-me ao pé da letra. Ela parecia me conhecer muito mais do
que eu mesmo. E imagine só: eu que nem sei de mim... jogando
adivinhações ao
viver dos outros.
Aquele clima sombrio que havia entre nós mudava de temperatura
conforme o tempo ia passando, embora, o frio atingia apenas a pele...
porém o interior ardia em brasas.
Meu pensamento latejava idéias tão antagônicas ao momento. Como
posso eu, fazer alguém feliz... se nem mesmo consegui encontrar alegria?
Ou será que eu procurava tanto fazer alguém feliz e acabava perdendo
minha própria felicidade?
-Abrace-me querida!
Minha alma tremia de um jeito que chegara a contaminar minhas
pernas. E toda minha fobia refletia no fundo de meus olhos.
Ela sorriu. Vi o quanto era lindo o sorriso de sua essência. Eu
sentia a felicidade à uma troca de calor. Mas algo dentro de mim
relutava.
-Há uma terceira pessoa aqui entre nós...
Eu lhe sussurrei baixinho. Minha face se escondia das vistas
ofuscadas daquela Ingenuidade.
-Não a vejo em lugar nenhum! me respondeu empolgada.
Exclamei:
-É claro! Ela se encontra aqui... dentro de mim... e me impede de
entregar-me a ti...
Ela revidou convicta no que dizia:
-Só vejo você... o que de fato quero... porque você não me enxerga?
Eu a disse que não sabia procurar a felicidade e que às vezes até
esperava esta alegria me achar. Silvia me dizia que tinha me achado e
que eu era o que ela tanto procurava e continuou:
-Não precisa mais procurar... eis-me aqui, Richie... dê-se a
oportunidade de ser feliz!
Afastando-me dela com passos curtos, sentei-me num banco próximo e
com lágrimas descendo pelo meu rosto, a pedi ajuda. Silvia se aproximou
de mim, enxugou-me as lágrimas e segurou em minha mão dizendo:
-Será que a delicadeza com que seguro sua mão ajuda?
Eu retribuí apertando sua mão com desejo.
Eu sentia a sombra da bela moça encostando em minha face, e logo em
seguida aqueceu-me os lábios com os seus lábios fervorosos de paixão. A
carência que habitava em mim não me permitiu resistir à atenção de
alguém que me propõe felicidade, até porquê, Silvia sabia que em meu
peito nascera uma brecha, talvez a oportunidade de adentrar seu amor em
meu coração.
Um vento frio atirou-nos uma folha, uma folha dentre tantas outras
folhas, uma em forma de coração. Rimos, silenciosamente, também nos
olhamos. Abismados.
-Está mais fácil de decidir o que você quer? perguntou-me.
Respondi que já era tarde e que devíamos nos preparar para seguir de
volta à nossas casas, mas, ela insistiu:
-E então...?
-Sim, querida... está mais fácil de responder... mas ainda não sei a
resposta... preciso pensar mais... respondi.
-Pense em mim... faça este esforço... revidou.
-Claro... acho que sim...
Eu a disse com uma forte sensação e certeza de que não iria tirá-la
da cabeça no decorrer desta noite. Porém, não deixei isso transparecer
para ela, ou, pelo menos acho que não.
Seguimos então, para nossos destinos.
Hoje, acredito que a felicidade enfim me encontrou. Tudo porque me
permiti, ou, meu coração permitiu que alguém me mostrasse que o amor,
muitas vezes nos chama; e que o sentimento que já habita em nós, que
chamamos de amor, sozinho, sem a atenção e reconhecimento do outro, não
passa de ilusão. A felicidade está muito mais próxima de nós do que
imaginamos. Não é fácil se abrir para um novo amor, mas... reconheçamos
o esforço e a coragem de quem de fato nos ama e veremos o quanto somos
fracos para o sentimento e o quanto valiosos somos para o olhar de quem
nos ama.
Maximiniano J. M. da Silva - sábado, 01 de Setembro de 2007