Um só sonho.
Um só sonho.
-Lá se foi o Inverno,Havia começado a primavera mais linda que meus olhos já viram,a chuva fina consagrava aquele momento de ouro,e eu só observava.A data em que iniciou minha história,é a mesma que a minha,a sua, ou a de qualquer um que à ler.Com minhas mãos sujas de terra,sentado em meio a um campo-verde que cresce e nasce como nenhum outro,escrevia meus pensamentos,viagens e sonhos,sujava o papel,mais imortalizava momentos.
-Gabriel! Saia dessa chuva meu filho vamos na cidade,comprar algumas coisas.
Ouvir aquilo era como flutuar em meio as nuvens límpidas,ou escorregar no arco-íris.Levantei o mais rápido que pude,corri até a minha casa,agarrei meu chapéu de couro,e entrei no velho caminhão sujo de lama.A viagem até a cidade não era entediante,quando se podia cantar músicas com o pai até ela.Chegando lá,fomos a uma quitanda na entrada da pequena cidade,o dono se chamava Senhor Malaquias ,era simples,com um bigode arrebitado,e muito brincalhão,eu não costumava falar muito,eu observava,e sentia cada momento,tão bom,como se fosse único.Meu pai disse:
-Pega o que quiser na quitanda para você comer,e vai no carro para mim,pegar as ferramentas que prometi ao senhor Malaquias.Andei,e ao sair da pequena quitanda,uma gota brotada da nuvens,e caída dos céus, tocou minha pele,meus olhos se fecharam e então acordei,com uma voz roca que dizia:
-Acorda moleque,quer morrer?deixa logo esse sapato brilhando antes que essa chuva caia.
-Sim senhor –respondi desacreditado.
Lá estava eu de novo,na terra de ninguém,com monstros que se dizem gente.Como eu desejava que aquela gota não me tocasse e que eu dormisse para sempre encostado nessa caixa de sapato,e que essa vida real e humilhante,só tenha sido um mero pesadelo.Que o menino engraxate,sem pai e sem mãe,achado por um mendigo no lixo,e criado por um orfanato seja só uma história assustadora contada ao redó da fogueira,para dar medo antes de dormir,que o garoto analfabeto,com fome,com frio e com sede ,não tenha dormido em baixo de viadutos, não tenha que comer restos,que nem o mais podre dos animais tenha comido,esperava que realmente isso só fosse um pesadelo,mais não,só um sonho que veio para um pesadelo.
(JOMAR SERPA)
GNOMO