São Paulo de braços abertos!
Definia-se um entardecer quente na cidade e eu aproveitei o término do expediente para tomar um refrigerante sentado à janela do edifício. Dali via-se o pedestre que ia e vinha não se sabe para onde. Mas algo me chamou a atenção.
Um homem diferente caminhava desengonçado Mazzaropeando pela calçada tumultuada dando sinais de aturdimento quando vez ou outra olhava para o céu e cuspia um palavrão conhecido. Os braços do caipira vinham bem junto ao corpo em posição de defesa. Caipira sim! Quem mais usaria aquela botina surrada, calça jeans com as barras dobradas, meias lasseadas, camisa alaranjada num tamanho muito grande com mangas dobradas no punho, e um chapéu de palha pequeno e bem encaixado na cabeça? Aliás, tudo demonstrava que ele não pertencia ao centro de São Paulo, tudo mesmo. Carregava uma sacola de lona pendurada na mão, parecendo que estar repleta de roupas. Subitamente estancou diante de uma grande loja iluminada e demonstrou encantamento com as luzes que avisavam ofertas arrasadoras. A boca entreabriu em sinal de espanto e os olhos brilhavam mais que as luzes da loja.
Da janela pude ver o quão desajeitado era nosso caipira. Saltava da calçada para o asfalto como se houvesse um obstáculo, e demonstrava medo ao atravessar rua estreita de pouco movimento.
Vi que ele finalmente chegou à frente do Teatro Municipal reconhecendo alguém que parecia esperá-lo. Cumprimentaram-se em entusiasmado aperto de mãos e um ligeiro abraço. Ele então abriu a sacola e retirou de lá uma caderneta que mostrou uma anotação ao seu conhecido. O amigo balançou a cabeça afirmativamente e seguiram andando em direção ao ponto de taxi mais próximo na Rua Xavier de Toledo...