Choro Seco
Sozinho. A aglomeração de corpos celebrando o retorno de quem nunca foi, verdadeiramente, não me comove. Por mais que conheça o suspiro de quem me saúda, sou engolido pela dúvida e me dopo em pensamentos. Por onde estive? O que aprendi? Assimilara a dor como aprendizado ou somente me tornara mais fraco? Do que fujo? Talvez do soco que, no primeiro instante, nos priva de ver para depois nos ensinar a enxergar.
Na verdade, fujo do amor. Fujo do sentimento que grampeia corpos e impede o vôo das almas. Fujo do comprometimento perverso que estipula os passos quando os pés ainda nem tocaram o chão. Fujo da dor que vem junta.
Conheço a felicidade, mas do jeito como foi cravada em meu peito noviço. Sonhos, olhos brilhantes e sorriso largo faziam parte do pacote. O que é ser feliz hoje? Fincar as garras no peito alheio até que linhas de sangue alertem para a crueldade dos gestos? Calar o grito de socorro arruinando ambos os destinos? Percebo que o amor alimenta os fracos assim como a felicidade comove os tristes. Tudo de mentirinha.
Voara nos pensamentos, tornando o tempo figurante, quando percebera o delicado abrir dos seus olhos.
- Oi.
- Oi.
- Dormiu bem?
- Dormi.
- Você me ama?
- Amo.
Desvencilho-me do seu corpo, alegando calor, e lhe dou as costas, ainda na cama. Miro o espelho na parede e me envergonho do reflexo.
...não tente entender o amor.