- Nossa Tia Luli...

(Texto escrito em 19 de maio/2008)


Hoje a família está mais triste...

Chegou a hora e a nossa Tia Luli partiu...

Certamente ela está bem onde se encontra agora!

Mas, como penso que é até nas piores ocasiões,é melhor deixar as coisas boas e engraçadas abafarem as coisas ruins , resolvi contar aqui um pouco e assim, relembrar como foi a Tia Luli em nossa vida, como uma forma de homenageá-la.

Lembro dela sempre com a grande preocupação com as crianças, filhos, netos, bisnetos, sobrinhos-netos, quem quer que fosse.

Estava sempre preparando uma comidinha gostosa para despertar a fome ou vontade de comer.

Fazia uma tortinha com um creme de laranjas inigualável. Era a melhor que provei até hoje.

Lembrar dela é pensar em crianças, cachorros e todos os animais bem cuidados.

Andava pelas ruas e, quando via, por exemplo, um carroceiro maltratar o seu cavalo, descia do carro, não sem antes dar um grito em alemão de:
-Pass Auf!!!, Alva ( Cuidado!) para o seu marido,o Tio Alva.
Assim, ela abordava os carroceiros e tirava os relhos deles.
Não sei como nunca levou uma relhada.

Ela era assim... Os cachorros de todo N. Hamburgo, H. Velho e depois em Porto Alegre,que encontrava, tratava de assistí-los. Sabia até de quem eram" filhos"...

Se era assim com os animais, imaginem como era com os filhos: Marilú e Juarez.

Este, cresceu e até agora, de onde estiver, deve "lembrar" das palavras: "Juareeeez, bist du geschwitz???" (estás suado???)
Isso com o seu sotaque bem alemão que tinha, ficava muito característico dela.
Essa pergunta foi uma marca da Tia Luli e motivo de muitas brincadeiras e risadas.
Ela se preocupava para ver se ele, que estava em meio às brincadeiras e correrias infantis, porventura, estivesse suado, o que facilitaria a chegada de uma gripe, se apanhasse qualquer vento.

Então, além de perguntar, fazia a "verificação" nas costas dele e , se realmente estivesse, não havia problemas: ela tinha sempre uma pequena mudinha de roupa, que sempre carregava junto.

Era também muito precavida, até demais!

Assim, morando em P.Alegre, sempre que ia para N. Hamburgo passar o dia , levava na sua "delicada malinha" uma roupa preta, pois, poderia ter que ir a um enterro de qualquer conhecido de infância, por lá. Bota precaução nisso, heim?

Outra recordação bem nítida que tenho dela: foi num período em que ele estava muito cansada, precisando descansar um pouco.

Nós morávamos no Rio de Janeiro. Ela então ia até lá para "repousar".

Este repouso, porém, era sempre "muiiiiito tranquilo", pois quase sempre coincidia com a entrega de algum boletim nos nossos colégios, onde nem todas as notas eram azuis e assim , ela que queria paz, ficava em meio às confusões normais, com xingões por todos os lados.
Belo repouso!!! Ela quase morria de nervosa!!!

À noite, dormindo no quarto conosco, quase nos matava de susto: acordava no meio da noite , sentava na cama e acendia uma luzinha e, pasmem...passava batom nos seus lábios.
O motivo nunca soubemos, mas era assim. Parecia um fantasma no escuro!

Os anos foram passando, ela enfrentou valentemente várias doenças e no entanto, apesar das queixas, estava sempre firme e bonitona e ...sempre com batom!

Com as correrias da vida, cada vez menos a víamos. Porém, sabíamos que ela estava sempre lá, pronta e receptiva.

Não lembro de que tenha passado um aniversário de qualquer membro da família que ela não marcasse presença com seu telefonema pontual.
Era sempre uma das primeiras, não falhava...

Todas nós sabíamos que quando uma criança não estava muito bem, podíamos telefonar-lhe que logo estava pronta para rezar, fazer suas benzidas e pensar sempre na melhor forma de ajudar.

E assim, foi com nossos filhos e também os netos.

Até minhas filhas já sabiam a quem recorrer quando as coisas com os filhos não andavam bem. Uma benzidinha sempre ia bem!!!

Agora estão para nascer mais três criancinhas na família e para estas, não teremos mais a sua ajuda para recorrer...

De uma coisa, no entanto, ela podia se orgulhar: aquelas mesmas meninas que antes achavam graça das suas preocupações exageradas com filhos, comidas, ventos e tudo mais, hoje estão bem parecidas nesse ponto.

Por onde vamos carregamos um mini-armário, com mudas de roupas, casacos e tudo mais para os netos e estamos sempre tentando "socar" comida neles...

É uma pena, mas sua hora chegou e partiu.

Prefiro, ao invés de apenas ficar triste, conseguir, nesta hora e daqui pra frente, recordá-la com alegria .

E agora, em seu nome , temos que dizer somente:

-Pass Auf, Marilú! Estaremos de olho em ti!!!

Chegou a tua vez de te cuidar, após ter cuidado tanto e tão bem dela!!! (Chica- www.sementesdiarias.com)