O Silêncio

Fico observando-a, é uma mulher bonita, aparentando uns 35 anos, elegante, com um olhar penetrante, enigmático, boca bem contornada, com lábios acerejados. Vistia-se com um lindo vestido vermelho, realçando  a sutileza da sua pele  morena ,com decote ousado que delineava o seu corpo. Notei que abriu a bolsa e retirou um lencinho rendado  cor de rosa e em seguida enxugou uma pequena lágrima que teimava em escorrer pela sua bela face. Por que chorava? O que a angustiava?

Um forte vento entra pela janela do coletivo, desalinhando os seus cabelos pretos encaracolados e sedosos, porém nem se incomodou. Parecia muito solitária, pela expressão dos seus olhos,  não poderia ficar alheia à aquela expressão de dor, de agonia e desespero ; quem me dera estar em outro lugar para não ter que está diante daquela cena.

Apesar da distância e do silêncio entre nós, algo me fazia aproximar daquela sofrida mulher através dos pensamentos, as nossas emoções pareciam que estavam tendo as mesmas respostas. Ela emocionada por algo e eu emocionada pela sua emoção. Não é átoa, que dizem que o ser humano é diferente em étnia, cultura, porém muito semelhante na sua emoção.

Ela continua olhando pela janela , com um ar anacrônico, absorta ...  subitamente levanta-se com movimentos sutil, pede que a porta seja aberta e com passos compassados desce do coletivo.

Veja-a afastar-se e volto para minha vida e com uma pergunta: Quem era aquela mulher?

A noite de volta para casa, encontro pessoas aglomaradas ao redor de um corpo inerte, de uma mulher bonita, que se jogará do sexto andar do alpendre de um edifício, vestia um lindo vestido vermelho bem decotado e tinha nas mãos um lencinho rosa rendado. 

Foi levando consigo toda a sua angústia, seus medos, sua solidão e seus mistérios.

Naná
Enviado por Naná em 06/06/2008
Reeditado em 09/06/2008
Código do texto: T1022846