Um café no sul de Minas
UM CAFÉ NO SUL DE MINAS
E por falar em Minas Gerais me veio à memória a última visita que fizemos à Tia Naná em Pocinhos do Rio Verde. Lugar de agradável paisagem que deslumbram nossos olhos com pastos a perder de vista!
Ao chegar deparamos com a porta entreaberta e ninguém para nos receber. Estranho isso para nós paulistanas, mas apesar de ressabiadas, entramos guiadas pelo delicioso aroma de bolo de fubá que vinha lá do fundo, da cozinha caipira. Não, não é era apenas o bolo de fubá que exuberante ultrapassava os limites da forma ao assar, tinha também o pão caseiro que já dourava colorido diante de nossos olhos caipiras para tanta fartura e frescor. O cheiro do café se misturava a todos os aromas e o coador de pano esfumaçava sobre o fogão de lenha. Olhei para a enorme mesa ao centro da cozinha e lá estava a toalha alvinha de linho branco esperando pelas louças que Tia Naná pintava com talento profissional. As cozinheiras, Jurema e Chiquinha, olhavam orgulhosas para suas criações que aos poucos eram arrumadas, de maneira harmoniosa, em peças especiais que iam à mesa seguindo um belo ritual matinal.
Tia Naná entrou vindo da missa, entoando uma cantoria alegre, nem parecia tão cedo. Surpreendeu-se em nos ver ali paradas de malas ainda aos pés. Corremos para o lavabo e nos limpamos para o famoso e tão esperado café da casa de Tia Naná.
Jurema foi trazendo queijo fresco, goiabada, coalhada fresca, mel, bolos e pães. Enquanto isso, Chiquinha posicionava com capricho e muito cuidado as porcelanas brancas pintadas à mão, os talheres que vieram da Inglaterra, o bule branco com filete de ouro do qual Tia Naná tanto se orgulhava. Os guardanapos de algodão bordados na casa eram engomados pela Dona Maria, lavadeira. A lenha do fogão era trazida pelo Veio Juca há mais de trinta anos.
Havia um delicado e confortável calor que nos acolhia, vindo dos fogões que trabalharam afoitos desde as cinco da manhã. Pela janela da cozinha já brotavam raios do sol que prometiam um dia muito quente no Sul de Minas. Tudo nos encantava.
Tia Naná sentou-se, e em seguida nós duas, e somente depois o Tio Zequinha e os meninos. Era um maravilhoso momento. Fechei meus olhos para gravar os perfumes dessa inesquecível manhã. Lá dentro ouviam-se as mulheres já lidando com o preparo do almoço que deveria ser um porco, temperado na véspera, e que ficaria assado ao meio dia.
Um delicioso sorriso da anfitriã nos deu o comando para iniciarmos nossa refeição.
Esperamos quase três anos para este café acontecer de novo.
(Conto publicado no site do Açúcar União: www.cybercook.com.br)