QUERO SER MAGRA!

Teve uma época em que a Alice ficou gordinha. Em um ano, ela que sempre tinha sido elegante, engordou dez quilos, quase sem sentir. De repente, as calças não passavam mais das coxas, seu rosto ficou uma bolacha e amigos, parentes e agregados viviam lhe dizendo: Nossa, como você engordou!

A situação começou a incomodar Alice além do normal. O pior de tudo é que ao invés de tentar dar um jeito para tentar emagrecer, ela comia cada vez mais, em uma compulsão absurda. E para completar o quadro do desastre total, o namorado se apaixonou por uma magricela e pediu as contas.

Alice passou todo o verão de calças e camisas soltas. Na praia, foi horrível. Não usou biquíni e nem mesmo maiô. As gordurinhas sobravam na cintura, a barriga estava protuberante e as coxas batiam uma na outra. As primas magrinhas comiam o que bem entendiam e nada acontecia. Alice devorava caixas e caixas de bombom. Uma delícia. Comia até se sentir enjoada. A mãe, sutilmente, sugeriu que ela consultasse um psicólogo. Alice, com uma lata de leite condensado sendo devorada naquele momento, disse que não precisava.

Depois de se empanturrar com uma churrascada na praia e ter passado a noite vomitando, Alice resolveu dar um basta. Chega, disse ela para si mesma. Chega de se maltratar tanto assim. Felizmente, a mãe conhecia uma boa nutricionista e a consulta foi marcada para logo. Depois de uma hora, Alice saiu inspirada do consultório, com uma dieta que pretendia seguir à risca. E foi o que ela fez. Era mês de março. Tinha todo o ano para ficar bela para o verão. Era preciso que emagrecesse dez quilos. Alice perdeu quinze.

Por ser inverno, Alice emagreceu e as pessoas não foram se dando conta. As roupas pesadas para o frio disfarçavam. Claro, era notável alguma perda de peso, mas mesmo assim ninguém percebeu nada de anormal. Quando atingiu o peso ideal em três meses, parou de ir à nutricionista e resolveu fazer por conta própria a dieta. Perdeu mais cinco quilos. Ela achou o máximo. Mesmo a menstruação estar falhando e com alguma queda de cabelo, nada era mais importante do que estar de bem consigo mesma. Até a celulite havia diminuído consideravelmente. Vitória! Alice estava com orgulho de si mesma e cheia de auto confiança. Sentia-se até mesmo segura de procurar um outro namorado.

Mas o choque veio em seguida. O calor começou na primavera e Alice, ansiosa por mostrar suas novas formas, na primeira oportunidade que teve, vestiu uma regata e calças justas. Jamais esqueceu a expressão dos rostos da sua família, em pleno aniversário da avó. Anoréxica foi a palavra mais suave que ela escutou.

Entretanto, nada do que pudessem falar tirou o ânimo de Alice. Ela não queria engordar. Sentia-se bem assim. Estava leve, feliz com o novo peso. Sim, seus braços estavam fininhos e a bunda e os peitos tinham quase que sumido. Mas o que importava? O importante era se sentir bem.

Alice deixou de consumir muitas coisas que gostava. Massas, carnes, doces, uma boa de uma Coca Cola. Aliás, refrigerante, só os light. Tudo era diet, desde o pão até o pudim de caixinha. Não era tão ruim assim. O sacrifício compensava quando se olhava no espelho e não percebia uma gordurinha sequer na barriga. Até um piercing no umbigo ela ousou colocar. É muito bom ser magra, pensou Alice, naquele verão. As primas – as que eram magrinhas no verão passado – já apresentavam celulite na barriga, nas coxas e na bunda. Mas isto parecia não incomodá-las. Aliás, elas namoravam de montão. E Alice, com toda a sua elegância, não conquistava homem nenhum. Será que é verdade que homens gostam de mulheres fofinhas?

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 31/05/2008
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