Fast Fodd

O sujeito entrou correndo na lanchonete para escapar da chuva, numa dessas vinte e quatro horas, fechou o objeto que era para protegê-lo da choradeira do céu, mas não fez nada além de ficar ao contrário com os ventos fortes que vinham com tudo o que tinham. A moça do outro lado do estabelecimento achou engraçada a cena, um homem todo ensopado brigando com o guarda-chuva para poder parar um pouco e descansar da chuva. Muito engraçada a cena para ela, muito nervosa para ele. “Que vergonha danada!” – pensava o homem.

Depois de fechar o que deveria fechar procurou uma mesa vaga. Difícil era encontrar uma ocupada a essa hora. Três da madrugada. Viu que só havia um atendente com aquela cara de cansado e explorado que todo trabalhador tem. Via a cara de desprezo pelo mais novo “cliente”, com certeza o rapaz do caixa não queria atender mais ninguém. Mais adiante havia uma linda jovenzinha tomando um café quente e comendo qualquer besteira dessas de faz te fode. Deixou pra lá, não era hora para paquerar ninguém.

Caminhou um pouco mais, sentou numa mesa que ficava no canto, uma depois da jovem e numa curva que o balcão fazia que deixava a pessoa sentada com o topo da cabeça aparecendo e mais nada além disso, um pouco de discrição era o que queria, mesmo que ninguém mais fosse entrar nessa loja. Pegou o cardápio e começou a escolher o “prato”.

Em seguida entrou um adolescente bem normal, normal demais até. Calça jeans, tênis all star azul, com uma camisa bem simples e uma mochila nas costas, foi direto ao caixa e pediu um cheese burguer com bastante molho, adoro aquela cor rosada que tem o molho de vocês disse o moleque ao atendente, e sem verdura alguma, elas geralmente tem germes detestáveis quando são mal lavadas, e não confio em ninguém que trabalhe as três da manhã, o trabalho fica mal feito por causa do mal humor, completou o menino.

Sentou entre o homem molhado e a garota do café.

Cinco minutos depois estava lá a comida dele. Na primeira abocanhada o homem se levantou e foi até o rapaz que atendia a todos para pedir algo, qualquer coisa pra passar o tempo, pra matar a chuva. Matar. Um café, bem forte, sem açúcar, bem quente, muito quente, quente como o hálito da morte. Morte. Que idéia mais estranha na cabeça, pensava de si para consigo. Sentou e esperou.

Dois minutos depois estava lá o café dele. Como havia pedido, forte, sem açúcar, e quente como a morte. Morte.

O moleque levantou-se com uma cara azeda, amarga e todos os sabores que não gostamos de experimentar. Foi indignado até o caixa e começou a reclamar bem alto de qualquer besteira, qualquer bobagem mesmo, nada que incomodasse os outros dois ali presentes, até que o garoto falou algo sobre café. Bem, os dois estavam tomando café, os dois haviam chegado enquanto chovia, mas o homem é que havia recebido o pedido em menos tempo que ele, o homem era um desgraçado, pediu e foi atendido mais rápido! Isso é uma injustiça! – bradava o garoto.

A garota espantou-se, ficou um pouco chateada mas não era com ela mesma, pra que se importar, tirou seu mp3 da bolsa, colocou os fones, ligou em qualquer coisa que gostava de ouvir e deixou rolar. Seu aspecto não dizia que ela curtia um pouco de rock, mas era isso o que ouvia, rock do bom. Enquanto ouvia aquilo que gostava o homem molhado se levantou e foi até o garoto para tentar explicar que um café forte, sem açúcar e quente como a morte. Morte. saía mais rápido que um hambúrguer e um milk shake, com certeza, não era motivo pra tanta gritaria, nenhum motivo para tanto.

O garoto estava inconsolável.

O mp3 deixou soar agora youth of the nation do p.o.d., música interessante para o momento, momento que o garoto puxou de dentro da bolsa um revólver automático engatilhado apontando para os dois alternadamente, pedindo que os pedidos fossem refeitos, berrava para que isso ocorresse, pois ele queria que o homem do café esperasse mais que ele, isso era o que deveria ser feito para consertar a situação. A garota agora cochilava na mesa lá do meio da lanchonete, nem percebeu quando levou o tiro na cabeça, muito menos quando foi que tudo realmente acabou