Perfume de Gardênia

Perfume de Gardênia



José Roberto, todas as tardes, perto das seis e meia, ligava para a noiva que estava no escritório. Gardênia era esforçada e ambiciosa, mergulhava profundamente no estudo dos processos estudando, sublinhando. Geralmente ficava até tarde trabalhando.

Certa vez ligação voltou para a telefonista. José Roberto ficou encantado com aquela voz jovial, sensual com sotaque mineiro. Conversou um pouco com a dona da voz, logo soube, o nome, a idade, e quanto tempo Juliane estava no Rio.

Quatro meses se passaram, José Roberto e Gardênia continuaram noivos. Juliane tornou-se amiga de José Roberto. Ele lhe telefonava no meio da tarde para saber como ela estava bem se tinha melhorado da gripe, e outras pequenas atenções. De certa forma eram íntimos, mas não se conheciam pessoalmente. Ele já havia tentado, Jul não aceitava. Ambos eram mineiros filhos de pais separados, de cidade do interior. Ele era professor de direito e desembargador, ela cursava o terceiro semestre do curso de direito em uma universidade privada no período da manhã.

Uma segunda-feira, Juju atendeu José Roberto. Ele reclamava que não encontrara Gardênia no ramal, pediu que Juju verificasse se ela não estava em outro ramal próximo. Gilberto um colega de Gardênia atendeu e disse que Gardênia não estava tinha ido a São Paulo. Voltaria na quinta-feira. A viagem tinha sido decidida logo após o almoço, na certa ela não tinha tido tempo de avisá-lo. Certamente ela ligaria mais tarde do hotel.

José Roberto resolveu insistir em convidar Juliane para um café. Dessa vez ela aceitou.

A grávida aguardava o marido na portaria do prédio em que trabalhava. Era hora do almoço, funcionários entravam e saiam em grupos conversando em voz alta.De repente, seu coraçãozinho disparou e ficou apertado. Gardênia acabava de esbarrar em José Roberto. A distância era pequena e ela pode escutar a voz de Gardênia. – Quanto tempo! Beto...
Ele sorriu e nesse instante viu Juju em frente aos dois.

Apontou para Juju acrescentando: - Gardênia, esta é Juliane minha esposa. Gardênia teve um leve tremor, olhou e falou: - Já nos conhecemos há algum tempo, não é mesmo Ju, Juliane apenas sacudiu a cabeça. Despediram-se. Gardênia ficou um pouco parada observando o casal de mãos dadas sumindo na multidão. Sua mente trabalhava com pressa, processando informações ouvidas nos últimos meses.

“Aquela menina a telefonista, casou-se com um desembargador. Foi amor à primeira vista...”.
Eles formam um belo casal, apesar da diferença de idade. Alguém acredita que ela o ama mesmo? Afinal um homem da posição dele não é de se jogar fora. Onde se conheceram?
Alguém já contou a Gardênia sobre o próximo casamento deles? Coitadinha, ela vive tão triste agora que terminou o noivado. Só pensa em trabalho. Não sei, não, alguém me disse antes do casamento que já tinha visto ele aqui na portaria saindo com outra moça, mas não lembrava quem... Fica quieta a Gardênia está chegando, conheço pelo perfume ““.
Gardênia olhou para si mesma. Trabalhava, trabalhava, trabalhava, fazia horas extras, estava sempre cheia de olheiras profundas, disfarçadas com maquiagem pesada. A tintura do cabelo tinha que ser retocada a cada quinze dias. Estava envelhecendo os quarenta já tinham chegado. Primeiro amante de José Roberto enquanto ele ainda era casado com a primeira esposa, depois a separação, ela se tornou a noiva. Nove anos. Ele sempre lhe dava conselhos para estudar Direito, no futuro poderiam trabalhar juntos. Ele se tornou juiz. E ela se formou ele ainda opinava, enfeitando o futuro que teriam se ela primeiro se tornasse uma advogada competente e depois se encontrariam na magistratura. Sem contar os fins-de-semana que passavam separados, pois ele precisava de privacidade para ficar com a filha única. Gardênia não chorou. Um enorme bolo estava em sua garganta. Rodou pela cidade, durante horas, vagando sem saber para onde ir, e o que fazer.

Célia, a copeira, comentava com uma colega. Hoje na hora do almoço, vi os três na portaria. Até o perfume da Gardênia a Juju passou a usar. Eu sempre via o nome das duas na revista da AVON que eu passo para as moças daqui. Coitada, a colega de Célia fez uma cara estranha e disse: - Será que ela não soube antes que a Juju tinha se casado com ele?
Célia respondeu: - Não sei, só ela poderia te responder. Coitada, que triste fim. O Raimundo disse que ela ficou esmagada... Ali no Passeio em frente à Mesbla...