JUSTIÇA PARA TODOS
Senhor Martin, de oitenta anos costumava passear com o seu cachorro numa avenida movimentada, bem em frente a residência do senhor Moisés, que ficava assentado em uma cadeira de jardim apreciando a tarde.
Coincidência ou não este senhor tinha setenta e oito anos e no apagar daquele fim de tarde o cachorro do senhor Martin, conhecido como mimoso achou de fazer as suas necessidades na calçada de acesso a casa do senhor Moisés, que vendo a cena, de imediato repudiou e ameaçou o cachorro de morte.
O senhor Martin reagiu e disse ao senhor Moisés, que ele estava se precipitando, afinal o cão, era um animal, não tinha um raciocínio lógico. Contudo o senhor Moisés não quis saber e estendeu a ameaça ao senhor Martin.
Numa bela manhã o senhor Moisés tomando sol e aparando as rosas da roseira vê o senhor Martin chegando com o cachorro, que foi logo se dirigindo ao pé do muro e usualmente aliviou a sua barra. Sem saber ele que estaria provocando um litígio fatal.
Sem contar conversa o senhor Moisés abriu o portão silenciosamente e quando o senhor Martin se deu conta, ele estava cumprindo a ameaça que dissera dias atrás. Desfalecido o senhor Martin caiu soltando sem forças a coleira do cachorro, que mais que depressa correu e começou a ladrar contra o agressor.
O senhor Moisés, que não satisfeito, como se estivesse possuído investia para cima do cão, que não recuava e não parava de latir, até que apareceram várias pessoas e testemunharam a cena lamentável. O senhor Martin dormindo o sono da morte, todo ensangüentado, enquanto o senhor Moisés exibia em punhos a arma do crime e disparava desaforos enfurecidos contra quem estava no local, como se tivesse ensandecido.
Ao chegar a polícia a família tentou sem sucesso evitar a prisão. O Senhor Moisés foi em cana, em caráter especial, em função da idade.
Inconformados os familiares pediam justiça e organizavam romarias pela cidade. Os jornais e revista do país noticiavam dia e noite. Consultavam especialistas e formulava opiniões direcionando o público a condenação daquele ancião.
Como era de se esperar a população se envolveu tanto, que faziam piquetes, passeatas e vigília em frente a casa do Senhor Moisés.
Enquanto não saia nada formalizada por parte da justiça todos os dias um grupo de três pessoas se postavam a frente da casa do senhor Moisés e afixavam cartazes, pixavam as paredes do muro, acendiam velas e gritavam por justiça.A família já incomodada com isso resolveu tomar providência chamando a polícia, que ia e vinha e não conseguia pega-los.
Um dia antes do julgamento do senhor Moisés a polícia já cansada resolveu se espertar e deixou alguns agentes na casa do senhor Moisés, como se fossem gente da família e que quando deu meia noite e meia os manifestantes vinham com uma bandeira escrita “Justiça acorda de tua desídia e faz valer a igualdade”, para afixar no muro, quando foram surpreendidos e presos por perturbação a ordem.
No dia seguinte o senhor Moisés foi condenado a oito anos em regime domiciliar. E para surpresa de todos os meros perturbadores da ordem pública eram procurados pela justiça e foram reconduzidos a penitenciária, pois o menos perigoso tinha que cumprir dezoito anos em regime fechado.