BOLHAS DE SABÃO

BOLHAS DE SABÃO

Vejo um pobre petiz todo feliz, radiante, soltando bolhas de sabão, que são espalhadas pelo vento, se desfazendo no tempo, na calçada, nos transeuntes alheios à sua condição.

A felicidade do menino é tamanha que não percebe o mundo ao redor, a fome, a miséria e as calças rasgadas, rotas pelo tempo sagaz que o consome, que o maltrata e o faz homem, mesmo antes de menino.

Vejo um raro momento, a criança sendo criança, por breve espaço de tempo, pois em breve o dever lhe imposto pela vida que leva, lhe chama à responsabilidade. Chega um cliente e bate na sua caixa de engraxate. O menino desperta de seus devaneios, volta a ser homem. Atende o freguês, que o trata com certa distância e rispidez. Cuida de seu trabalho com esmero, recebe a moeda quase que jogada sobre sua caixa de engraxate.

O menino agradece mesmo assim, nem sentiu a indiferença e a maldade daquele homem que conseguiu ser menino, que jamais sentiu fome, frio ou qualquer coisa assim.

Volta às bolhas de sabão, sem deixar jamais a atenção aos passantes, pois dali retira o sustento, para si e para os seis irmãos, menores ainda que ele, que estão em casa, cuidando da pobre mãezinha doente no leito, o pai foi embora, covarde, não suportou tanta pressão.

Mas, amanhã é outro dia e o menino crescido poderá voltar a ser criança, quem sabe, envolto em bolhas de sabão.

Diana Lima, Santo André/SP, versão atualizada em 08/09/2013

Diana Lima
Enviado por Diana Lima em 06/05/2008
Reeditado em 08/09/2013
Código do texto: T977710
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