A busca incessante... [fragmento de uma noite]

Numa dessas noites simples - vento gelado, tempo fresco, agradável - seus olhos refletiam o absurdo. Dizem que isso não é normal. Mas, ainda assim, ela tentava, sem fim, viver intensamente essa falta de sentido. Aproveitava cada segundo de seu sofrimento, de sua efêmera alegria, de sua angustiante existência vã.

Outrora lamentava o absurdo. Sofria pelo sentido que não conseguia captar, sentir, porém, ainda acreditava que o encontraria. Suas angústias eram reflexo da sua corrida atrás dos objetivos supérfluos que tentava impor, sem êxito, à vida.

Agora o saúda. Festeja a brevidade de cada instante, de cada desencontro. Suas buscam cessaram. Sua vida não. Seus lábios retrucam a falsa e lamentável busca incessante dos tolos. Seu sorriso é constante... Sob seu olhar, reflexivo, apenas o mundo: criam o que nada sabem para dar sustento ao que não conhecem.

Ainda caminha pelas ruas, sentindo o tempo e não deixando cada momento sequer escapar à sua atenção...