Fragmento [quadro fragmentado de vida]

... Ainda assim vivo...

Os rumos nessa rua de mão única continuam. Nesse momento (e a partir dele) por outro canto dessa travessa escura. Ainda não se sabe se pela parte mais iluminada ou a mais suja. Mas, sabe-se, e isso muito bem, que avança passando por experiências que amassam mais o papel antes de jogá-lo no bueiro, seja para entupi-lo, seja para dar à ele novo visual...

A arte se desvenda rotina. Não mais 'sentimento estético'. Dizem que pensam e nada sabem: nada sabem do que pensam. O impacto com a sujeira daquele outro lado da rua estremece, remove as máscaras e enobresse a rua. Deixo as calçadas e desvio dos carros que antes me davam carona até o posto de gasolina mais próximo...

Pensam que nada sabem.

* * *

Disseram-me que a vida acabou. Que o mundo estremeceu. Qual o sentido disso tudo? São falsos os abalos e as minúcias desse fragmento dizem pouco perto desse ambíguo relacionamento com esses autômatos...

* * *

Eles continuam caminhando pelo lado mais iluminado da rua: a claridade pode cegar. Prefiro continuar por aqui. Sem sentido mas com rumo. Mudando as velocidades, contrariando as curvas... Deixo os ratos me dizerem por onde caminhar: ouço-os com plena atenção. Não que os aceite, mas, ainda assim, são ratos...