(Tela de Claude Monet - Impressão ao nascer do sol)


 

Olhando para a foto da tela de Monet, lembrei-me da frase de Carlos Drummond de Andrade, meu poeta favorito, que diz assim:
 
Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes”. 
 
Certa vez, uma arquiteta prestou-me um serviço e, por amizade, cobrou-me um valor muito aquém do preço tabelado. Seu marido – o engenheiro da obra -  questionava o alto custo de certos detalhes na planta do imóvel." "Arquiteto sonha o impossível e os engenheiros que se virem para executá-lo", dizia ele.  Por outro lado, ela queixava-se dessa racionalidade e pouca sensibilidade dele para com as artes. Porém, o fascínio pela vida no campo deixava-o irracional nos custos com bichos e terras. 

 
Mês de dezembro. O trabalho do casal terminara junto com a finalização da obra. Conversei com meu marido e resolvemos presenteá-los com uma tela a óleo, de um pintor paulistano, no estilo que apreciamos: o impressionismo! Pois bem. Ao desembrulhar o presente minha amiga ficou encantada. Imediatamente escolheu a parede acima do sofá para colocá-lo. O marido, então, disse sorrindo:  "Eu sei que uma tela dessas não é barata; é um dinheiro que eu não empregaria nisso, mas não teria pena de investir num garrote!” Rimos todos. 
 
Nesse meio tempo, a filha do casal entra na sala, olha para a tela e começa a desfiar as características daquele tipo de pintura, sua importância e por ai afora! Ela fez também, uma comparação entre a época do movimento impressionista e a situação política e social da França. O pai, aluno exemplar por todo período escolar, sentou-se e ficou observando com orgulho a ‘aula’ da filha. Encantou-se com seu conhecimento e a ponte que ela fez entre os fatores sócios-políticos da França e a arte impressionista. A sensibilidade demonstrada por ela o tocou!  
 
Enfim, às vezes a chave mestra para uma satisfação interior é descartada, quando há falta de interesse por determinadas coisas ou acontecimentos. Outras vezes, descarta-se um gratificante aprendizado por temer o inusitadoO movimento impressionista, por exemplo, chocou o mundo das artes no Século XX. Em uma exposição na França, a tela de Claude Monet  foi denominada de ‘impressão do nascer do sol’ em tom irônico por um crítico de arte. Tudo começou quando um grupo de jovens artistas substituiu a pintura acadêmica, pelo impressionismo. Os pintores correram para o  sul da França, onde o sol era mais intenso e transformaram telas brancas em paisagens cheias de luz, sombra e cor. As nuances apareciam de acordo com a incidência do sol. 
 
Surgiu, então, uma nova maneira de se enxergar o mundo. A sensibilidade daqueles artistas expressava o resultado do que eles viam, a impressão deixada pela luz. Assim, não utilizavam as misturas das cores, mas a sobreposição delas dando a impressão, no primeiro momento, de uma tela inacabada. 
 
Naquela época, houve muita crítica, riso e chacota, que não intimidaram aqueles jovens artistas. Para eles não se constituía ‘perda de tempo’, como achavam os apreciadores da pintura acadêmica. O tempo gasto em aprender coisas que não interessava a sociedade, não os privou de descobrir uma nova maneira de enxergar a natureza e os seres humanos...  O saudoso poeta Drummond sempre tem razão: Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes”! 
 
26.04.2008


* Homenagem a aniversariante de hoje, a arquiteta Lu,  que transforma seus projetos arquitetônicos em pura arte.