Pulgas!!
A linda jovem entrou na recepção lotada, usando óculos muito escuros e conduzida por um belíssimo labrador. Um ligeiro burburinho denotou o pesar dos presentes pela deficiência visual da moça e alguma admiração pelo porte e utilidade do animal.
Ela identificou-se no balcão e, ajudada por uma das atendentes, sentou-se a um canto, com o cachorro ao seu lado. Nem bem ele se sentou, porém, destituído de qualquer nobreza, começou a se coçar, jogando longe várias pulgas que refugiaram-se entre os bancos da sala de espera. Passados alguns instantes, uma senhora alisou discretamente a batata da perna. O cavalheiro ao seu lado também com muita sutileza, esfregou um pé sobre o outro. A loura oxigenada, sentada entre eles roçou a mão na nuca, como se ajeitasse os cabelos. O cão-guia continuava se coçando e, a cada passada das patas nos pelos cheios, espalhava pontinhos pretos saltitantes pelo ambiente. As coçadas discretas dos presentes foram tornando-se mais evidentes e alguns já se esfregavam furiosamente.
Não demorou muito e, um a um, os pacientes foram abandonando a sala de espera, deixando-a sozinha.
Nisto, o dentista apareceu e gritou pelo próximo. Ela sorriu, retirou os óculos escuros, exibindo dois grandes olhos azuis muito saudáveis. Fez um carinho no cachorro, retirou da bolsa uma latinha e assobiou. As pulgas voltaram saltitantes e alojaram-se na latinha e ela, levantando-se para entrar no consultório, sorriu ao fechar a tampa, onde se lia: O Maravilhoso Circo de Pulgas da Laís.
Imagem daqui.