O Canudo

O Canudo

Ana Esther

ADVERTÊNCIA

O propósito destas páginas se deve à solicitação de um trabalho de final de semestre feita pelo professor Paulo Guedes (UFRGS).

Cada aluno deveria escolher um escritor brasileiro de sua preferência e tentar imitar seu estilo literário.

Escolhi o estilo de Machado de Assis pois sou sua fã incondicional.

Em sua ‘Advertência da Primeira Edição’ do livro Ressurreição, Machado diz que não deseja elogios fáceis, mas sim uma crítica verdadeira. É o que eu também desejo, e vou mais longe na falta de modéstia, digo que eu gostei muito do trabalho que realizei. Porém: “A crítica decidirá se a obra corresponde ao intuito e sobretudo se o operário tem jeito para ela.”*

*em Ressurreição – Machado de Assis

Capítulo I – O último dia

Com o Salão de Atos lotado, a platéia aguardava o final do discurso do vice-reitor – infelizmente o reitor, por motivos desconhecidos, não pudera comparecer. Durou o discurso mais de trinta minutos, após o qual se daria a entrega. Foi neste momento que os formandos, inquietos, começaram a se concentrar na pessoa do paraninfo encarregado de anunciar seus nomes...

Para ti leitor curioso, intrigado talvez, com o quadro acima, não será difícil te pores ao par dos acontecimentos, basta um pouco de persistência para não te aborreceres com o livro.

Capítulo II – O convite

Fechemos agora os olhos e imaginemos o primeiro dia do vestibular dessa turma que ora espera para ouvir o seu nome e receber o seu diploma juntamente com os cumprimentos dos membros da mesa.

Capítulo III – Dos vestibulares

Tinha ansiedades esse dia; o horário rígido, o modelo da prova totalmente diferente, fichas de computador para colocar as respostas, os exercícios árduos e longos, na sala de aula moças e rapazes desconhecidos, porém todos com a mesma inicial do nome... Amália, Anacleto, Ângela, Anita, Antero...

Esta atmosfera prolongou-se por cinco dias. O sexto dia surgiu carregado de uma angustiante expectativa: era o momento da divulgação dos resultados. 25000 candidatos para apenas 3054 vagas... Ó vagas, terror dos vestibulandos, causadoras de insônias e de bebericagens de chá de camomila.

Delírio do estudante dono de um nome no Listão de Aprovados, “listinha” em relação ao número de candidatos inscritos. Ó pesadelo, ó tortura para aqueles 22000 desafortunados.

Ao vencedor, a matrícula1.

1Nota da autora: leia-se “Ao vencedor, as batatas.” (M.A.) [Colocar em nota de pé de página]

Capítulo IV – A maratona

É possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade, que aquela moça que se mostra impaciente na fila da pré-matrícula não está realmente interessada em seu curso, fez o vestibular apenas para conseguir um diploma. Após as inúmeras filas por que passara encontra-se exausta e um tanto irritada. Olha para o moço que está a sua frente e pergunta:

- Tens horas?

- Tenho, são 11 horas.

- E será que a gente sai daqui antes do meio-dia?

- Acho que sim, só falta passarmos no Banco, e irmos para a fila da Prática Desportiva.

E uma agradável conversa estabeleceu-se só findando quando os dois jovens saíram do prédio. Porém o destino os reuniu na segunda etapa da malfadada matrícula, dias depois.

- Que coincidência te encontrar de novo!

- Oi, tudo bem? Tu aqui pelo Campus, isto quer dizer que fazes Letras...

Somente agora ficaram sabendo que seriam colegas. Nossa bela menina-moça tem por nome Joana e seu compenetrado é o Euclides, rapaz sério e de boa índole. Já fizeram as devidas apresentações e agora comentam sobre o envelope alaranjado que receberam.

- Euclides, imagina que depois deste imensurável sacrifício de chegar até aqui ao Campus para pegar este envelope, teremos que voltar novamente ao Básico para a terceira etapa desta matrícula. Quanta burocracia!

- Até que não é tanto assim, Joana. Só falta mais uma etapa e logo estaremos prontos para começarmos a estudar.

- Nem me lembre disso. Começar a estudar é a pior das partes.

Coitado do Euclides, a esta observação da moça ele ficou até sem fala, pois não via a hora de pegar nos livros.

Finalmente a última fase chegara e Joana já reclama da demora das filas e do computador que a todo o instante está falhando. Euclides tenta convencê-la de que o sistema da faculdade é diferente do de um colégio e que os atrasos são normais.

- Mas Euclides, eu já passei por três filas, fiquei trancada esperando a assinatura da Supervisora e ainda tenho mais duas filas para enfrentar... isto tudo cansa muito.

- Não te preocupes, quando sairmos daqui não teremos mais filas.

- Eu sei disso, mas não concordo com este complicado processo.

Os dois jovens saem, ambos satisfeitos: Joana se livrou das filas e Euclides gostou muito das matérias que cursará.

Capítulo V – Os calouros

Imagine leitor, a Faculdade de Letras, situada no Campus do Vale. Lugar longínquo, na divisa de Porto Alegre com Viamão: difícil acesso. Pois é bem aí que os nossos estudantes se encontram neste momento esperando o início das aulas.

Escrito em um dos folhetos recebido na matrícula, o horário acusava o começo do primeiro período às 7:30h, porém os calouros já haviam sido informados que o verdadeiro horário para o Campus (apenas para o Campus, quanto aos outros cursos o horário era o estabelecido no folheto) era às 8:00h devido à distância.

Já na sala de aula os alunos fazem os primeiros contatos, as primeiras conversas, comentários sobre o local... um ambiente típico de ocasiões semelhantes.

Podemos ver o tímido Euclides tentando se dirigir a Joana, única figura conhecida até então, que se achava em uma animada roda de mocinhas. Mas neste justo instante sentiu no ombro uma pressão e virou-se um tanto sobressaltado. A voz de Adroaldo produzira-lhe a impressão de agrado que lhe fazia sempre.

- Euclides, há quanto tempo! Bem uns quatro anos.

- Amigo Adroaldo! Estimo ver-te.

- Se não me engano Euclides, após acabarmos o Primeiro Grau, não mais voltamos a nos encontrar, não é mesmo?

- Tens razão. Mas agora que seremos colegas novamente, não tornaremos a nos separar!

Deixemos os dois amigos e voltemos à alegre roda das moças que nesse justo momento comentam sobre a escassez de rapazes no curso. Salientavam-se nesta roda a já nossa conhecida Joana, Catarina, as irmãs Lucinda e Glória, e Pepita a venezuelana, ainda com dificuldades de idioma.

- Escolhi o curso errado! Pode-se contar os rapazes! Deveria ter escolhido Engenharia Mecânica. – Disse Joana galhofeiramente.

- Concordamos plenamente com Joana, não é, Glória!

- Mas é claro, os rapazes estão cada vez mais raros. – Lucinda completa o comentário da irmã.

- Este problema não me afeta, – argumentou Pepita – pois já tenho o meu namorado!

A esta declaração as moças riram jovialmente. Porém, o leitor deve ter notado que Catarina não emitiu qualquer opinião. Haverá algum motivo para essa atitude?

Durante este tempo Joana notara que Euclides conversava com um jovem muito atraente. Com sua curiosidade aguçada, Joana deixou o grupo e aproximou-se dos dois.

- Oh, Euclides, finalmente estamos começando. Pelo que conheço isto deve te alegrar.

- E realmente estou muito feliz.

- Noto que não é daqui que vocês se conhecem. Serás nosso colega também? – Indaga Joana, Tentando manter um diálogo com Adroaldo.

- Sim, serei. E pelo jeito eu e o Euclides seremos avis rara nesta classe!

Joana conseguiu seu objetivo, pois os três continuavam o discurso alegremente e quando o professor entrou na sala, Joana sentou-se entre Euclides e Adroaldo: os dois únicos rapazes desta cadeira.

Capítulo VI – Títulos

Alguns momentos hesitei se devia dar o nome do Capítulo V de “Os Calouros” ou “Os Bichos” sendo “Bichos” palavra dedicada a esses alunos. Suposto o uso vulgar fosse a segunda hipótese, achei interessante sofisticar colocando o título como o leste primeiro.

Capítulo VII – O porquê do canudo

Para não perder tempo com detalhes desnecessários, levo agora o leitor ao bar do Antônio, aconchegante recinto onde os estudantes se reúnem para longos bate-papos. Seis meses se passaram e o segundo semestre já deixa estes calouros mais acostumados com a nova maneira de estudo.

Na mesa do canto esquerdo as graciosas irmãs Lucinda e Glória convidam Hipólito, um rapaz que se formará no próximo semestre, para se juntar a elas, e a Pepita. Hipólito está entusiasmado com sua formatura.

- Vocês sabiam que quando eu receber o meu canudo vou trabalhar de gerente no supermercado de um primo do meu pai? E já estou com o futuro garantido!

- Mas Hipólito, tu fazes Letras e vais ser gerente! Eu não entendo!

- Ora, Glória, é que eles só me dão o cargo se eu tiver um diploma superior, seja ele qual for.

- Não estamos contra ti, Hipólito, mas eu, Lucinda e Pepita pretendemos ser professoras mesmo e é por isso que estamos aqui.

Mas quem está em uma mesa não muito distante é a Joana, seus inseparáveis colegas e Ofélia que anda muito chateada.

- Vocês não podem sequer imaginar como eu detesto este curso... eu queria Medicina mas passei só na segunda opção. Isto é horrível.

- Mas Letras é um dos melhores cursos que existe, Ofélia.

- Euclides, tu adoras a idéia de ser tradutor, então o curso te é muito agradável.

- Estás esperando o próximo vestibular, então?

- E desta vez eu passo, te prometo, Adroaldo.

Quem é aquela moça sozinha em uma mesinha afastada? Parece ser Catarina. Em que estará ela pensando? Catarina pensa em sua carreira. Gosta do curso, pois sabe que o diploma é um grande trampolim. Trampolim para que?

Se o leitor seguir o olhar da solitária menina notará que ele se detém no moço ao lado de Joana: o Adroaldo.

Pobre Catarina, seu coração parece derreter quando ela olha para o amado. Mas Adroaldo jamais perdoá-la-ia e é por isso que a nossa fascinante sofredora persiste com afinco nos estudos –se o leitor continuar com a leitura entenderá as parábolas desses pensamentos de Catarina.

Ainda em devaneios ela ouve a voz melodiosa de Joana recitando um poema para Adroaldo.

“Écrire cést précieux

Lire cést merveilleux

Mais aimer...

Oh ! Là... là...

Cést bien mieux. »

Cpítulo VIII – Joana

Ah, a nossa adorável Joana. O leitor já deve ter percebido que o verso acima é a personificação da autora.

É uma moça de dezessete a dezoito anos, esbelta sem magreza, estatura mediana, talhe muito elegante e atitudes altivas. A face de um rosa-pálido, tem a mesma suavidade da flor de que tira a cor. As linhas imaculadas e firmes do rosto parece que as traçara a arte divina. Os cabelos longos lhe caem com naturalidade sobre os ombros. Seu olhar guarda um insondável mistério. Não exigiria a arte maior brandura de feições.

Joana entrara para a Faculdade não por se interessar pelo curso, o qual foi escolhido simplesmente por que os outros, em sua opinião, eram ainda piores. O que Joana realmente ambiciona é o diploma. Sabe que uma moça de sociedade necessita de uma credencial como esta. Às vezes se irrita com a quantidade de temas por fazer que impedem-na de passear, sair com os amigos. Acha que isto não é vida, mas irá até o fim, até conseguir o canudo. Diz sempre que quando toda esta ‘tortura’ acabar não vai trabalhar por muito tempo, só descansar, descansar.

Esperava encontrar muitos rapazes e eles já haviam se tornado seus amigos, mas para os flertes gostosos... Existe apenas uma pequena consolação; quando almoça no Restaurante Universitário (o RU vulgarmente chamado), pode ver os rapazes da Veterinária, da Agronomia, da Química, mas só de longe. Mas Joana não desiste, um dia tudo dará certo.

Quanto ao Adroaldo, Joana não oferece perigo para a sua amiga Catarina. Joana já notara que o amigo tinha um amor antigo e não a tratava senão como colega.

Joana amava. Era um amor secreto mas também impossível –o leitor facilmente o denominaria de platônico. Porém Joana tem esperança no futuro.

É conhecida como a ‘namoradeira do Campus’ pois descobre os mais interessantes moços só que o que suas amigas não notam é que ela na verdade nunca chega a um compromisso com nenhum. Será devido ao seu misterioso amor?

Capítulo IX – Manjar dos deuses

O RU é palco de grandes debates. Os estudantes saem da aula e famintos invadem o restaurante. A reclamação começa já pela fila quilométrica, o alto preço para aquela mesma ‘gororoba’ de sempre. Hoje o Hipólito está indignado com a comida. Esta comida não deveria ser servida nem para o Quincas Borba2. É simplesmente intragável.

- Hipólito, falando assim tu ofendes a Joana que não deixa nada na bandeja.

- Não te preocupes Ofélia, já estou acostumada, o Hipólito sempre paga a bandeja e não come nada. Eu como. Tem muita gente morrendo de fome por este mundo que adoraria comer aqui.

- Vamos parar de discutir, falemos de assuntos mais amenos. Vocês viram que o preço do xérox subiu?

- Catarina, tu chamas isto de amenidades?

- E tenho outras ‘amenidades’ para te contar: querem que o nosso ensino aqui seja pago; estão pensando em mudar o currículo do curso novamente; quando os outros cursos vierem aqui para o Campus, nós iremos para aqueles prédios bem distantes; em vez de dois professores para uma mesma cadeira querem colocar três, queres mais?

- Não!

Foi dada em coro esta resposta pois ninguém queria ouvir notícias tão funéreas.

Acabado o almoço, trocadas algumas palavras, os jovens retiraram-se. Teriam de ir para o centro, para uma daquelas cadeiras opcionais que, na opinião deles, só serviam para roubar-lhes o tempo, uma vez que eram matérias como: Física, Geologia, Ecologia... em um curso de Letras.

2Alusão ao cachorro de Brás Cubas(personagens de Machado de Assis). [nota de pé de página]

Capítulo X – Morte lenta

Os quatro subiram no ônibus e notaram que a passagem aumentara. Ficam apavorados, imaginando como os operários e as pessoas pobres iriam suportar este aumento. Ocuparam dois bancos e as lamentações começaram.

- Preparem-se, daqui a uma hora chegaremos ao nosso destino.

- Se conseguirmos sair com vida dos buracos da Antônio de Carvalho!

- Catarina, tu não achas que a Joana e o Hipólito são muito pessimistas?

- Esta tua ironia ainda te deixará em más situações, Ofélia!

- Turma, olhem quem está na roleta, se não é o Euclides. Euclides, senta-te aqui perto de nós.

Euclides ouve o chamado de Joana e senta-se no banco de trás. Seus amigos discutem com entusiasmo, porém o moço está ensimesmado, além do que tem que reunir forças para agüentar a ‘viagem’ até o centro, com o ônibus lotado e menos rápido que uma lesma.

Capítulo XI – Euclides

Euclides, rapaz bem apessoado, um pouco tímido se comparado a maioria dos jovens modernos. Está adorando o curso embora pense que os professores deveriam exigir mais dele. Num ponto concordava com Joana: os temas. Eram tantos que nem lhe sobrava tempo para estudar. Para Euclides esta não era a forma correta para aprender, se tivesse menos trabalhos poderia se dedicar realmente a seus estudos, suas leituras.

Seu grande sonho, quase uma idéia fixa, era se formar em Letras. Este diploma seria o primeiro passo para Euclides se tornar um escritor, criar nome e entrar para a Academia Brasileira de Letras.

Sim, a Academia! De alguma chegaria a ser um dos membros. Sabia que seria difícil, pois nem o poeta maior, o nosso Mário Quintana, ainda não conseguiu... Mas com muito esforço Euclides sabe que conseguirá.

O ônibus está completamente lotado, e quando Euclides sente a batida de uma bolsa na sua cabeça se oferece para segurá-la.

Os pensamentos quantos a sua carreira desaparecem, Euclides pensa agora na revelação que Adroaldo lhe confiara: ama Catarina.

Esta confidência Adroaldo lhe fizera com a promessa de segredo. Haviam sido namorados mas o destino os separou. Adroaldo não queria nem vê-la mais. Mas este mesmo terrível destino os aproximou novamente. Euclides preocupava-se com amigo.

Capítulo XII – Desistências

O terceiro semestre começou com novidades variadas, os novos calouros que chegaram tomando conta do Campus, deixando este privilégio que nossos amigos possuíam para trás. Mas o que mais preocupou Joana e o Euclides foi o número de colegas que desistiram do curso: a Ofélia passou em Medicina e se foi embora contente, as irmãs Glória e Lucinda, coitadas, o pai faleceu no meio das férias e elas se viram obrigadas a deixar o curso e procurar um emprego que lhes garantisse o sustento. Logo elas que desejavam tanto ser professoras.

Estas desistências são apenas dos mais chegados, pois a lista continua: a Virgínia muito amiga da Pepita, teve que procurar emprego também; Anastácia figura meio apagada na sala de aula, trancou o curso pois se casara, voltaria mais tarde; Filomena acertara a quina da Loto e não hesitou em sair da faculdade, pois só queria o diploma para ter uma boa referência, uma vez rica não precisaria mais.

Com o passar do tempo mais nomes se juntavam a esta lista e isto preocupava ainda mais os dois jovens.

- Joana, a continuar desta maneira, seremos os únicos a nos formar...

- Sei que é uma brincadeira Euclides, mas tenho medo que seja bem assim como o dizes. Já ouvi rumores que até a nossa Catarina está pensando em deixar-nos. E eu sei que tu sabes o porquê.

- Oh, Joana, eu sei mesmo. Mas isto é um assunto que deve ficar apenas entre ela e o Adroaldo... oh!...

A verdade escapara dos lábios do pobre Euclides que teve que implorar a Joana que ela não espalhasse o que ouvira.

Capítulo XIII – Romance antigo

O persistente leitor que me fez o favor de ler até aqui, sabe que boatos voam. Adroaldo logo ouviu os comentários a respeito da possibilidade da desistência de Catarina.

Era a situação de Adroaldo muito cômoda, pois via Catarina todos os dias. É verdade que nunca falara com ela desde o primeiro dia de aula, mas podia vê-la. Era este moço um tanto sadomasoquista. Sádico, porque sabia que Catarina sofria com tal indiferença. Masoquista, porque morria de amores mas não cedia.

Contudo, ao se dar conta da falta que sentiria se Catarina fosse mesmo embora, resolveu procurá-la.

- Catarina, gostaria muito de conversar contigo.

- Que surpresa, Adroaldo. Após tanto tempo...

- Eu fiquei sabendo que estás pensando em largar o curso. É verdade?

- Sim.

- Sim. Mas por que?

- Acaso não sabes? Acaso não imaginas como é difícil para mim te ver a todo o momento, sem sequer poder dirigir-te a palavra?

- Oh, Catarina, é por isso? Então ainda me amas?

- Como nunca. Mas não suporto mais esta situação. E sei que nunca acreditarias em mim se eu te dissesse que eu nunca beijei teu primo. Foi tudo uma calúnia preparada para nos separar.

- Eu quero tanto acreditar nisso.

- É a pura verdade Adroaldo, mas não posso te convencer, nem te provar.

- Nem precisa, amo-te muito e não vou deixar que vás embora. Peço-te mil perdões e gostaria de fazer as pazes.

A estas afirmações tão seguras, Catarina não resiste e corresponde ao abraço de seu amado.

Finalmente os dois se entendem e não se separam mais, são como dois pombinhos.

Catarina conta tudo a Joana. O ciúme que sentia dela ao vê-la ao lado de Adroaldo. Joana riu-se, pois seu coração neste momento balançava por um rapaz da Agronomia que fora seu colega em uma matéria opcional; por um rapaz que ela sempre encontra no RU, mas nunca falou com ele; por um professor de ginástica, mas ele já era comprometido e tantos outros, ao mesmo tempo. Quanto ao seu amado secreto, Joana não revelava a ninguém sua paixão.

Capítulo XIV – As vésperas

Os temores de Joana e Euclides quanto as desistências eram fundados pois os formandos da turma conhecida são apenas a Catarina, o Adroaldo e os dois amigos. Os outros formandos são muitos mas aquele grupo inicial foi se esvaziando até os nossos quatro teimosos finalistas.

Reuniram-se eles no Bar do Antônio para tratarem dos detalhes da formatura. A Conversa começou as mil maravilhas até que Joana abordou um assunto preocupante.

- Me digam vocês, agora que estamos prestes a receber os nossos canudos tão almejados, o que pretendem fazer com ele?

Foi um silêncio geral. Quem primeiro o quebrou foi Catarina que já tinha seus planos definidos há muito tempo.

- Eu farei um concurso e serei professora. Sei que o salário é baixo mas mesmo assim eu gosto. O ambiente é ótimo e as férias...

- Eu vou casar com a Catarina! Ser professor não era bem o meu sonho... vamos ver no que vai dar todo este esforço.

- Adroaldo, que pena ouvir isto. Eu estou exultante, é tudo o que eu sempre quis e consegui finalmente. O meu diploma. Este curso maravilhoso. Meus desejos estão começando a se tornar realidade!

- Que ótimo Euclides. E vocês dois também, vocês têm um início, uma perspectiva, mas quanto a mim? Vou acabar este curso, receber um diploma... Porém não quero ser tradutora, professora nem sonhando. Simplesmente não sei o que fazer do meu futuro, isto é triste, muito triste...

Joana está apreensiva quanto ao futuro, mas o diploma lhe dará uma alegria imensa: não precisará estudar mais.

Capítulo XV – Quo vadis?

Cá estamos nós leitor novamente no Salão de Atos, no exato momento em que o paraninfo anunciará os nomes dos formandos.

O leitor, familiarizado com certos nomes, sabe o que significará para seus donos ouvi-los.

- Adroaldo Menezes!

O que cada um dos formandos fará de agora em diante... será uma incógnita.

- Catarina Moreira!

Sonhos, ambições, fica por conta da imaginação de cada leitor.

- Euclides Alves!

O futuro destes jovens até dar-me-ia motivo para um outro livro!

- Joana...!

*Este conto apareceu na Revista de Divulgação Cultural Ano 15 - No. 50 Setembro/Dezembro 1992 (págs. 73-79) [FURB – Blumenau, SC].

Ana Esther
Enviado por Ana Esther em 20/04/2008
Código do texto: T953970