Bati Nela

Bati nela.

Não foi uma surra. Foi só um tapa. Eu me desculpei, disse que ando nervoso, tentei me redimir lhe oferecendo um presente, pedi até perdão.

Ela não aceitou o presente, disse que não preciso pedir perdão, citou de novo o tal do Richard Bach, alguma coisa como "não estou decepcionada com você, mas comigo por esperar demais de você". Disse que não era a primeira vez que eu a magoava assim. Que nós já não estávamos bem há algum tempo, disse que ia embora. Achei exagerado. Foi só um tapinha.

Tentei lembrar o que mais ela tinha de queixa contra mim... Sim... houve alguns momentos de desamor, desatenções, egoísmo...

Mas, nada que justificasse, pois em contrapartida... bem... não há muita contrapartida...

Não importa. Não é a primeira vez que ela diz isso. Ela está sempre querendo ir embora. Sei que ela não agüenta. Basta eu dar um gelo para que ela morra de saudades e comece a contar os dias, a arrumar pretextos pra me ter por perto. E aí, basta eu mover um dedo e ela volta correndo pra mim.

Eu até perguntei a ela, por que ela sempre volta pra mim. Ela não quis responder, disse que era uma pergunta óbvia. Eu tentei confundi-la: a pergunta é óbvia ou a resposta é?

Mas ela estava muito zangada, disse que não ia ficar discutindo semântica.

Não precisa mesmo. Eu sei que ela sempre volta, porque me ama.

Eu, não. Eu não a amo. Não amo ninguém.

Amor só traz dor, infelicidade, desespero.

Me protejo desse sentimento funesto que faz uma pessoa como ela, cheia de motivos pra ser feliz, submeter-se sempre a alguém como eu.

*** Conto de ficção baseado no texto "Hoje Eu Recebi Flores" disponível na Internet em (http://encantandotempo.blogspot.com/2007/04/hoje-eu-recebi-flores.html) e vários outros sites.