Confissões Do Recém- nascido I

Hoje é um dia especial na minha vida. Minha mãe acabou de chegar do ginecologista. A partir de agora, deixo de ser um bebê virtual ocupando espaço somente nas fantasias de minha mãe para me tornar um ser real, ou pelo menos, registrável numa ultra-sonografia.

Aqui do meu casulo uterino, apesar de não dispor de modernos meios de comunicação como internet, fax, tv a cabo, consigo me manter "antenado" com o mundo exterior.

Algumas vezes, ao longo do dia, sinto um gosto amargo na boca. Seriam ansiedades, medos ou azias maternas? Sinto também as carícias do meu pai na barriga da minha mãe, enquanto tentam imaginar o meu rostinho e me alegro com suas cantigas de ninar.

Entre uma ou outra chupada de dedo, sou levado a reflexões profundas. Por que sair daqui? Por que abandonar meu cantinho e minhas mordomias? Que tal aguardar o Brasil ser passado a limpo, terminar com as corrupções e CPIs? Afinal de contas, não posso e não devo ainda comer pizzas.

Tenho sonhado com um mundo sem violências, sem assaltos, sem tráfico de drogas e sem crianças abandonadas. Um lugar onde os homens não necessitem ser tão fortes e auto-suficientes e que possam chorar sem medo de mostrar suas sensibilidades.

Buáááá! Buáááá!!! Nasci. Agora em contato com o seio materno todas as minhas dúvidas e medos se tornam minúsculos, diante da alquimia deste momento, e com o olhar de carinho de minha mãe, tenho a certeza da globalização do amor divino e esperança no novo milênio.

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 02/04/2005
Reeditado em 05/04/2011
Código do texto: T9344