Peso de um simples nome

Sócrates. O que leva a um pai a colocar um nome "exótico" como esse em um filho? Num mundo repleto de João, Paulo, André, e tantos outros nomes mais comuns que vemos por aí, nosso Sócrates recebeu este nome por um motivo nobre, mas um tanto exagerado. Segundo seus pais, a origem de seu nome veio da idéia que "se dessem o nome de alguém inteligente a ele, talvez ele ficasse inteligente também". Mas não foi exatamente isto que aconteceu.

Sócrates sempre gostou de conversar. Desde sempre. Quando criança, enquanto seus amigos chutavam bola na rua, soltavam papagaio e faziam tantas outras coisas peculiares a crianças, ele preferia ouvir a conversa dos mais velhos e tentar aprender alguma coisa. Não que ele se isolasse do contato com outros meninos, claro que não. Tinha ele também seus momentos de moleque brincalhão e arteiro, mas, invariavelmente, as rodas de papo sempre foram suas diversões favoritas. O que não quer dizer necessariamente que os mais velhos o admirassem ou respeitassem por isso. Na verdade, era justamente o contrário que ocorria. Muitas pessoas se sentiam incomodadas com sua presença durante as conversas, pois sempre as interrompia com alguma pergunta, muito pertinentes até, mas não suportavam a cara de bobo que ele ficava enquanto ouvia as respostas e a forma como, apesar de não se expressar a respeito, parecia discordar intimamente de grande parte do que falavam.

No ambiente escolar, ele sempre era o último a levantar a mão em sala para responder uma questão, ou se oferecer para apresentar um trabalho perante os colegas. Mas quando o fazia, era sempre com uma desenvoltura e eloquência que admirava os ouvintes. Afinal, cada dia que passa as pessoas parecem ter mais dificuldade de se expressarem em público, ainda mais espontaneamente como o fazia. Essa facilidade em se expressar lhe rendeu um elogio do qual nunca se esqueceu e que serviu de base para seu comportamento futuro. Certo dia, após a apresentação de um trabalho, o qual foi muito aplaudido pelos colegas e professor, o mesmo fez o seguinte comentário, em particular:

- Parabéns Sócrates. Foi muito boa sua apresentação. Continue assim. Você está no caminho certo para um futuro brilhante. Não há pessoa mais talentosa que você aqui.

Naquele momento, foi como se seus próprios conceitos de si mesmo fossem colocados em xeque. Será que ouvira direito? A que talento ele se referia? Desde sempre, Sócrates se viu como alguém que não tinha uma inteligência privilegiada, ao contrário, lhe irritava sua falta de conhecimento sobre uma infinidade de assuntos. Para mascarar sua ignorância, usava ele da curiosidade e do questionamento. Assim, poderia aprender com os outros e não precisaria necessariamente expressar suas opiniões.

Mas, isto foi diferente. Este simples comentário acendeu uma centelha dentro de si. E cada vez que pensava nas palavras de seu professor, por quem nutria uma enorme admiração e respeito, esta centelha aumentava, e se tornava um grande fogo que lhe consumia na ânsia de descobrir a real profundidade deste comentário. E, para isso, decidiu que deveria ser mais curioso ainda, e descobrir o que poderia ter ele, tão limitado em seus conhecimentos, que não tivessem os outros.

Se descobriria algo de novo, sinceramente não sabia. Mas ao menos poderia continuar exercendo a atividade que tanto lhe agradava: dialogar e dialogar mais.